Você sabia que o Brasil está sempre entre os #TOP3 em cirurgias plásticas do mundo? Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (International Society of Aesthetic Plastic Surgery – ISAPS), os dois principais países (EUA e Brasil) são responsáveis por 28,4% do total dos procedimentos.
A manchete na revista Veja anuncia “Aumenta o número de plásticas em tempo de isolamento social”. Outra manchete mais recente no jornal Estadão também afirma “Pandemia aumenta demanda de pacientes por cirurgias plásticas“. Não sei vocês, mas essas notícias só confirmaram algo que eu já havia observado nas redes sociais: aumento das postagens de antes x depois, meninas cada vez mais novas se submetendo a procedimentos estéticos, estigma do peso e discriminação social, permutas de clínicas de estética com blogueiras, e por aí vai.
Um interessante estudo realizado nas ilhas Fiji sobre comportamentos alimentares e atitudes após exposição prolongada à televisão, avaliou se a mídia influenciaria nos comportamentos alimentares de adolescentes. A pesquisa foi dividida em duas partes: a primeira em 1995 – tempo em que não existia televisão na ilha; A segunda etapa em 1998, já com três anos de exposição à televisão.
Os resultados mostraram que os indicadores de transtorno alimentar foram significativamente mais prevalentes em 1998, ou seja, após a chegada de televisores na ilha, indicando maior interesse em perda de peso por exemplo. Esse estudo – mesmo não sendo atual – sugere um impacto negativo da mídia sobre o corpo e a autoestima.
Na atualidade, alguns procedimentos ganharam espaço, como por exemplo a lipo HD (High Definition: Alta Definição) ou Lipo LAD (Lipoaspiração de Alta Definição), os dois nomes referem-se ao mesmo procedimento, uma lipoaspiração que permite a definição do abdômen. Esse procedimento começou a aparecer na mídia após a divulgação de alguns famosos e blogueiras que passaram pelo procedimento e mostraram os resultados dos seus corpos com a exposição de fotos nos seus perfis.
A reflexão que quero trazer aqui é que a mídia talvez mascare o lado obscuro dos procedimentos, um pós operatório dolorido, desconfortos causados por edemas pós cirúrgicos e uma dieta restritiva que é necessária muitas vezes na recuperação pós-cirúrgica, mostrando apenas o resultado final, passando a ideia de algo simples, indolor e rápido para muitos que acompanham as celebridades nas redes sociais.
Tendo em vista que o acúmulo de tecido adiposo (gordura corporal), principalmente na região abdominal, é prejudicial à saúde, na lipoaspiração ao retirar a gordura dessa região ocorre uma melhora metabólica, ou seja, menos gordura na região abdominal mais saúde, certo? ERRADO! Uma revisão sistemática com meta-análise sobre os efeitos da lipoaspiração na síndrome metabólica e na sensibilidade à insulina, mostrou que o procedimento, quando comparado com um grupo controle, NÃO foi capaz de melhorar parâmetros clássicos de risco cardiovascular, como HDL, LDL, colesterol total, glicose, triglicerídeos, sensibilidade à insulina e pressão arterial.
Além disso, esse é um procedimento que retira a gordura subcutânea (aquela que fica embaixo da pele), e não a gordura visceral (entre os orgãos) que é a gordura responsável pelo aumento dos riscos para diversas doenças cardiometabólicas. Ou seja, o indivíduo que passa por um procedimento cirúrgico para retirada da gordura NÃO consegue ter melhora metabólica.
É claro que nem todo procedimento estético tem um viés negativo e longe de mim querer demonizá-los. Porém, acredito que se tratando de uma intervenção permanente e considerando que a saúde está em jogo, se deve ter muita responsabilidade e consciência da escolha que está sendo feita.
Devemos refletir também sobre o conceito de beleza e peso ideal e priorizar nossa saúde física e mental. Precisamos ter muito cuidado com o conteúdo que estamos consumindo, pois eles podem gerar comportamentos compulsivos em relação a aparência, causando insatisfação, sofrimento e baixa auto-estima, podendo levar a transtorno dismórfico corporal, caracterizado pela preocupação exagerada com a aparência.
Como uso esse espaço para trazer artigos e evidências científicas para conteúdo publicado, cabe também essas reflexões. Afinal, a nutrição e a estética são áreas que devem caminhar juntas.
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BECKER, A.E.; BURWEL, R.A.; GILMAN, S.E.; HERZOG, D.B.; HAMBURG, P.- Eating Behaviours and Attitudes Following Prolonged Exposure to Television among Ethnic Fijian Adolescent Girls. The British Journal of Psychiatry 180: 509-14, 2002.
SERETIS, K. et al. The effects of abdominal lipectomy in metabolic syndrome components and insulin sensitivity in females: A systematic review and meta-analysis. Metabolism, v. 64, n. 12, p. 1640-1649, 2015.