Em consultório, a grande maioria dos pacientes pede que o nutricionista diga qual o peso “ideal” para eles. Essa parcela dos pacientes parece precisar de um número que “norteie” para eles o sucesso do tratamento nutricional.
Mas existe isso de peso ideal? Do ponto de vista científico, existe. Através de estudos populacionais, os pesquisadores encontraram valores médios de peso ditos “ideais” de acordo com idade e gênero. Mas precisamos deixar claro que esses estudos epidemiológicos são importantíssimos sim (principalmente quando pensamos em formulação de políticas públicas), mas na prática clínica, no consultório, a dinâmica é um pouco diferente.
No consultório podemos levar em conta toda a subjetividade do paciente. Toda sua individualidade. Coisa que não é possível em estudos populacionais. Cada paciente é único, com genética, ambiente e história únicos, e por isso não deve ser encaixado em moldes. Além disso, muito mais importante que o PESO é a COMPOSIÇÃO CORPORAL. A massa magra e a gordura corporal são melhores indicadores de saúde do que o peso por si só. E não basta descartar o peso ideal da nossa prática clínica. Temos que DESCONSTRUIR esse conceito na cabeça dos pacientes! Caso você não informe um valor para ele, ele buscará na internet por conta própria alguma forma de calcular e encontrará um valor de peso ideal (muitas vezes extremamente errôneo). E isso é péssimo para o tratamento nutricional! Um artigo de pesquisadores finlandeses, publicado em 2016, é muito interessante para analisarmos o impacto do “peso ideal” na vida das pessoas: Eles avaliaram quase 5 mil adultos com idade média de 24 anos e os indagou qual seria seu peso ideal e acompanharam essas pessoas por 10 anos. Após 10 anos, apenas 13,2% das mulheres e 18,9% dos homens possuía peso igual ou abaixo do ideal relatado (Obesity (Silver Spring). 2016 Apr;24(4):947-53. doi: 10.1002/oby.21417). Agora, pensem comigo: DEZ ANOS sem possuir o peso que você considera ideal. Uma década de insatisfação com o próprio peso, tudo por causa de um único número! Isso causa prejuízos indescritíveis para a saúde mental.
Minha mensagem final é: na prática clínica, NÃO EXISTE PESO IDEAL! Existe um corpo, com uma composição corporal adequada, que permita a pessoa viver com mais saúde e prevenir doenças. O valor que a balança aponta é secundário, só reflexo disso tudo. E não existe valor universal! Cada um tem um, que será descoberto junto com o nutricionista!