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O motivo pelo qual eu falo tanto nas mídias sobre a dieta plant-based, não é apenas porque ela está alinhada com uma filosofia de vida que eu considero interessante, mas porque não param de sair evidências que reforçam os benefícios da adoção deste padrão alimentar para a saúde. 

A todo momento, estudos associam as dietas plant-based, ou aquelas que possuem características bastante similares, à desfechos positivos. Hoje eu quero falar um pouco sobre o impacto que uma dieta com base em frutas, verduras, legumes e grãos integrais pode trazer para a saúde, com foco na microbiota intestinal

Como já sabemos, nosso intestino é habitado por trilhões de microorganismos, distribuídos entre mais de 1000 espécies que possuem uma relação simbiótica complexa com nosso sistema. 

No intestino, mais de 90% das bactérias correspondem aos 4 filos principais: Firmicutes, Bacteroidetes, Proteobacteria e Actinobactérias. Quando ocorre um desequilíbrio homeostático no ambiente intestinal, geralmente ocasionado por alteração na composição microbiana ou eubiose intestinal, ocorre o que chamamos de disbiose intestinal

A disbiose pode ocorrer via três desequilíbrios centrais: diminuição e diversidade de microorganismos, perda de bactérias benéficas e aumento das bactérias patogênicas. É comum que esses três quadros ocorram simultaneamente. A disbiose costuma estar associada a grande parte dos problemas de saúde crônicos da atualidade, contribuindo para piora de quadros de saúde por meio de efeitos nas vias inflamatórias crônicas e na disfunção imunológica – que podem resultar em atopia, intolerâncias alimentares e doenças autoimunes

Já é possível perceber o quanto um ambiente intestinal saudável pode impactar na nossa saúde! Mas como garantir que boas bactérias habitem nosso intestino?

Se você pensou no uso de suplementação de probióticos ou qualquer estratégia similar, já adianto: antes de lançar mão destes recursos mais especializados, podemos e devemos trabalhar a base. Nossa microflora intestinal é extremamente responsiva a modificações de estilo de vida, sobretudo a nossa dieta.

Não podemos iniciar o assunto alimentação falando de outro componente se não as fibras. A fibra dietética é uma forma de carboidrato não digerível, geralmente polissacarídeos, que estão presentes predominantemente nos alimentos vegetais. Elas são passíveis de fermentação pelas bactérias intestinais que, durante o processo, irão crescer e gerar metabólitos como o acetato, propionato e butirato – Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC), que terão um papel importantíssimo em diversas vias fisiológicas no nosso corpo.

Os níveis de AGCC aumentam significativamente em pessoas que transicionam para uma dieta baseada em vegetais. Os AGCC podem servir de fonte de energia para os colonócitos (células do cólon), além de atuarem na manutenção da barreira intestinal, auxiliando na promoção de um ambiente intestinal saudável. 

Esse papel de manutenção estrutural tem uma importância muito grande, considerando que o intestino é uma área extremamente povoada por microorganismos e com potencial absortivo bastante aumentado; por este motivo, existe toda uma fina regulação de entrada de substâncias, o que irá impedir que organismos ou compostos patogênicos, como o LPS das bactérias gram negativas, cheguem até a corrente sanguínea, gerando endotoxemia e efeitos inflamatórios subsequentes.

Porém, quem consegue – e deve – ultrapassar a barreira intestinal são os próprios AGCC, que alcançam a corrente sanguínea e podem ter papel no metabolismo de lipídios, glicose e colesterol. O papel protetor do acetato, propionato e butirato contra diferentes tipos de doenças, como diabetes tipo 2, doença inflamatória intestinal e doenças imunológicas, já é bem documentado.

A microbiota intestinal de indivíduos adeptos à dieta Plant-Based também pode impactar na diminuição do peso corporal, facilitada pela supressão do apetite. Além de fonte direta de energia para os colonócitos, os AGCC atuam como substratos para receptores acoplados à proteína G em vários tecidos, estimulando a liberação do peptídeo YY (PYY), hormônio que reduz o apetite e a ingestão de alimentos, além de peptídeo semelhante ao glucagon (GLP-1), um hormônio que retarda o esvaziamento gástrico.

 

As populações de bactérias intestinais, que digerem essas fibras e  produzem AGCC, são encontradas em quantidades muito menores nas pessoas que têm dietas baseadas em produtos de origem animal, sendo um dos benefícios da redução do consumo de carne.

Mas se engana quem pensa que os benefícios da dieta plant-based resumem-se apenas ao aporte de fibras dietéticas.

Os polifenóis, abundantes nos vegetais, também terão um importante papel na manutenção de um ambiente intestinal saudável. A microbiota intestinal também transforma os polifenóis da dieta, produzindo metabólitos que freqüentemente têm taxa de absorção e bioatividade maiores do que seus polifenóis precursores.

Reciprocamente, os polifenóis aumentam a diversidade da microbiota intestinal, estimulam a microbiota benéfica – como as cepas de Bifidobacterium e o Lactobacillus – e retardardam o crescimento de cepas patogênicas na maioria dos casos. Pode-se dizer que os polifenóis desempenham efeitos antipatogênicos e antiinflamatórios e de proteção cardiovascular.

Alimentos comuns ricos em polifenóis incluem frutas, sementes, vegetais, chá, produtos de cacau e vinho.

Podemos observar como a microbiota intestinal pode sofrer modulação de acordo com o tipo de substrato a ela fornecido. Por isso eu sempre reforço: antes de pensar em suplementação visando o cuidado intestinal, preocupe-se com o que está (ou não está) sendo ingerido. A maior vantagem de uma dieta plant-based é o fornecimento, em quantidades ideais, dos compostos que apresentam seguramente efeitos positivos para o metabolismo, em detrimento de uma diminuição drástica (ou exclusão) de alimentos de origem animal.

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Referências:

Li, H., Christman, L.M., Li, R., & Gu, L. (2020). Synergic interactions between polyphenols and gut microbiota in mitigating inflammatory bowel diseases. Food & function.doi:10.1039/d0fo00713g

Tomova A, Bukovsky I, Rembert E, et al. The Effects of Vegetarian and Vegan Diets on Gut Microbiota. Front Nutr. 2019;6:47. Published 2019 Apr 17. doi:10.3389/fnut.2019.00047

Najjar RS, Feresin RG. Plant-Based Diets in the Reduction of Body Fat: Physiological Effects and Biochemical Insights. Nutrients. 2019;11(11):2712. Published 2019 Nov 8. doi:10.3390/nu11112712

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