Esteatose hepática não alcoólica: o poder da atividade física em sua prevenção e tratamento.
A Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, que atinge cerca de 25% da população. Até o momento, não há nenhuma terapia medicamentosa eficaz para seu tratamento ou cura. Mas as mudanças no estilo de vida, alimentação na dieta e a prática regular de atividade física permanecem como base da prevenção .
Em julho de 2022, foi realizado virtualmente o primeiro Painel Multidisciplinar Internacional da American College of Sports Medicine (ACSM), que teve como objetivo avaliar as evidências da atividade física como meio de prevenção ou modificação do curso da esteatose hepática não alcoólica. Assim como fornecer aconselhamento e recomendações de atividade física para adultos com DHGNA.
A partir de uma revisão abrangente da literatura científica, verificou-se que a atividade física regular moderada em pacientes com DHGNA pode levar a adaptações benéficas significativas não apenas no fígado, mas também no músculo esquelético, no tecido adiposo, no sistema cardiovascular e também afeta o microbioma e a disfunção do eixo intestino-fígado.
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Redução do teor de gordura no fígado
A melhora da gordura hepática foi o maior benefício estudado e estabelecido no exercício físico (incluindo treinos aeróbicos, de resistência, HIIT e combinados) em pacientes com DHGNA. Estudos relataram uma redução maior do que 30% e semelhantes àquelas observadas em testes com uso de medicamentos em fase inicial de tratamento. Vale ressaltar que essa redução da gordura não veio necessariamente acompanhada da redução de peso.
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Melhora histológica
Até o momento, 4 ensaios clínicos demonstraram que o exercício com ou sem alterações na dieta, pode influenciar favoravelmente a histologia hepática em pacientes com DHGNA.
Um deles combinou 200 min/semana de exercício aeróbico de intensidade moderada com dieta hipocalórica ao longo de 40 semanas, e encontrou que quase 75% dos pacientes com tiveram redução da condição, demonstrando significativa alterações na histologia hepática também observadas concomitantemente reduções na perda de peso corporal.No entanto, essas análises são limitadas por heterogeneidade e tamanho da amostra com menos de 60 pacientes sendo estudados no total.
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Saúde cardiovascular
A Doença cardiovascular é a principal causa de morte em pacientes com DHGNA. A prática regular de atividade física indicou melhora significativa nos biomarcadores de pacientes com essa condição, como a redução da disfunção endotelial e consequente diminuição de riscos de obter a doença arterial coronariana.
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Mudanças na composição corporal
Verificou-se uma redução significativa no tecido adiposo visceral e subcutâneo com o exercícios aeróbicos, que foi concomitante à diminuição relativa da gordura hepática medida por ressonância magnética.
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Melhora no condicionamento cardiorrespiratório
A aptidão cardiorrespiratória é preditivo de mortalidade e pode estar associada à gravidade da doença hepática. Diversas meta-análises já comprovaram melhorias no condicionamento cardiorespiratório com o treinamento físico, incluindo exercícios aeróbicos de intensidade moderada e HIIT.
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Melhora na qualidade de vida
Fora todos os benefícios para a saúde, o estudo demonstrou que os exercícios físicos diminuem a interferência da dor e fortalecem os papéis sociais.
Como aconselhar e incentivar a prática de atividade física?
É fundamental conhecer as barreiras, motivações e nível de prontidão do paciente para saber orientá-lo da melhor maneira na criação de novos hábitos. Para isso, a importância de um atendimento centrado no paciente e de uma linguagem empática e acolhedora, sem julgamentos e estigmas. Algumas técnicas como entrevista motivacional, terapia cognitivo comportamental e lâminas educativas podem auxiliar na mudança de comportamento.
Essencial também o trabalho com uma equipe interdisciplinar, incluindo um profissional de educação física para orientações individualizadas que levem em conta as capacidades básicas, comorbidades, história médica pregressa, medicamentos e preferências pessoais.
Qual a recomendação?
Os estudos sugeriram pelo menos 150 min/semana de atividade física de intensidade moderada ou 75 min/semana de intensidade vigorosa, preferencialmente combinando exercícios aeróbicos com o treinamento de resistência.
Referência: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10069861/