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 O consumo de alimentos ultraprocessados é um problema crescente, isso não é novidade. Mas você sabia que um dos principais fatores relacionados ao aumento da ingestão desses produtos é a falta do hábito de cozinhar? Cada vez mais a população está cozinhando menos e comprando mais alimentos prontos para o consumo.

 Um estudo realizado publicado em 2020 na revista Appetite observou que a confiança dos pais nas suas habilidades culinárias reduz o consumo de alimentos processados pelas crianças. Este foi um estudo transversal com 657 pares de pais e filhos de nove escolas particulares de São Paulo, aqui no Brasil.

 Os achados sugerem que a confiança dos pais nas habilidades culinárias potencialmente protege seus filhos contra alimentos ultraprocessados. Isso indica a necessidade de reavaliar o hábito de cozinhar para promover uma alimentação saudável.

 De acordo com um artigo de revisão, publicado em 2017, na British Medical Bulletin, ao contrário do que muitos pensam, a epidemia de obesidade não pode ser atribuída apenas a à genética, mas sim a modificações no estilo de vida, que colocam os indivíduos em um ambiente obesogênico. Isso inclui alto consumo de alimentos com alto teor de açúcar, baixa ingestão de frutas e vegetais, menor atividade física e maior tempo de tela. Também está nesta lista o efeito obesogênico das bebidas açucaradas, que são, muitas vezes, negligenciado. Questões sociais, econômicas e culturais também estão significativamente associadas.

Entre os vários contribuintes para a obesidade infantil, fatores familiares desempenham um papel importante. Os membros da família tendem a ter dietas, tempo de tela e comportamentos de atividade física semelhantes. Por trás disso, uma baixa posição socioeconômica está associada a um risco 10% maior de sobrepeso e 41% maior de obesidade em crianças de 0 a 15 anos em países de alta renda.

Fatores socioeconômicos podem estar associados à adiposidade infantil por meio de uma série de caminhos, incluindo conhecimento, atitudes, limitações financeiras e restrições nos padrões de nutrição e atividade física. Como um indicador importante, o nível educacional dos pais influencia o conhecimento e as crenças da família, e são considerados importantes para estilos de vida saudáveis ​​e o desenvolvimento da obesidade. É extremamente identificar esses fatores para definir os passos para reduzir a obesidade infantil e desenvolver estratégias para melhorar a alimentação da criança.

 Cozinhar em casa está associado a dietas de melhor qualidade, enquanto uma redução desse hábito pode estar associada ao aumento da obesidade e aos fatores de risco para doenças crônicas. Um outro estudo, publicado na revista Nutrients em 2020, avaliou o papel de aulas de gastronomia em uma intervenção de perda de peso.

 Os objetivos deste estudo foram examinar o hábito de cozinhar como uma intervenção para controle de peso em adultos com sobrepeso e obesos, e se tal intervenção aumenta a qualidade alimentar dos participantes. Adultos com sobrepeso e obesos foram randomizados em uma das duas condições de intervenção: ativa ou demonstração. Ambas as condições receberam a mesma intervenção comportamental para perda de peso de 24 semanas e aulas de culinária quinzenais.

 A condição ativa preparou uma refeição semanal durante uma aula prática, enquanto a condição de demonstração observou um chef preparar a mesma refeição. A condição ativa perdeu significativamente mais peso em seis meses em comparação com a condição de demonstração (7,3% vs. 4,5%). Além disso, ambas as condições observaram melhorias significativas na qualidade da alimentação, embora nenhuma diferença significativa tenha sido observada entre os grupos.

 Um fator que pode estimular o hábito de cozinhar, ajudando no controle do peso corporal e na prevenção de doenças crônicas, é  variar a forma de preparo dos alimentos e ter uma horta em casa! Uma revisão sistemática com meta-análise sobre o efeito da jardinagem na alimentação e em desfechos de saúde, publicada em 2019 pela universidade de Oxford, mostrou que essa atividade possui um efeito significativamente positivo na redução do IMC.

Isso é explicado pelo fato de que possuir uma horta em casa aumenta a disponibilidade e o acesso a vegetais e leva a um aumento da preferência por alimentos saudáveis. Esses fatores, além de auxiliarem no controle do peso corporal, são essenciais para a prevenção de doenças cardiometabólicas.

Além disso, a jardinagem pode ser terapêutica, promovendo bem-estar mental. Sem contar que um pouco de verde em casa deixa o ambiente muito mais agradável! Então que tal fazer a sua hortinha em casa com a ajuda das crianças? Não tem nada melhor que cozinhar utilizando um ingrediente que você acabou de colher!

Mesmo com pouco espaço, é possível! Você pode começar plantando temperos e ervas aromáticas, como cebolinha, alecrim, salsinha, pimentas, orégano… Se você mora em apartamento, é só colocar os vasos perto de alguma janela que seja ensolarada.

 Outra coisa que pode estimular o hábito de cozinhar é o acesso a receitas interessantes! Como vocês já devem saber, eu sempre tenho ebooks de receitas em mãos para entregar para os meus pacientes. Gosto sempre de estimular o preparo dos alimentos em casa. A gastronomia é uma ótima ferramenta de adesão à dieta e devemos usar e abusar dela! 

 Vou deixar aqui alguns ebooks que desenvolvi para trabalhar com meus pacientes:

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 Referências:

Martins, C. A., Machado, P. P., Laura da Costa Louzada, M., Levy, R. B., & Monteiro, C. A. (2020). Parents’ cooking skills confidence reduce children’s consumption of ultra-processed foods. Appetite, 104452. doi:10.1016/j.appet.2019.104452 

Referência: ALBUQUERQUE, David et al. The contribution of genetics and environment to obesity. British medical bulletin, v. 123, n. 1, p. 159-173, 2017.doi:10.1093/bmb/ldx022

Alpaugh, M., Pope, L., Trubek, A., Skelly, J., & Harvey, J. (2020). Cooking as a Health Behavior: Examining the Role of Cooking Classes in a Weight Loss Intervention. Nutrients, 12(12), 3669. doi:10.3390/nu12123669 

Kunpeuk, W., Spence, W., Phulkerd, S., Suphanchaimat, R., & Pitayarangsarit, S. (2019). The impact of gardening on nutrition and physical health outcomes: a systematic review and meta-analysis. Health Promotion International. doi:10.1093/heapro/daz027

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