Gases e distensão abdominal: o que fazer? E o que posso comer?
Nem sempre você precisa excluir totalmente os alimentos da sua dieta, fazer um teste de intolerância alimentar ou realizar estratégias mirabolantes!
São vários fatores que implicam na produção de gases intestinais. Sim, inclusive os fatores comportamentais! A forma como você se alimenta é fundamental, mastigar bem os alimentos e evitar ingerir uma grande quantidade de líquidos durante as refeições pode auxiliar a evitar esse processo.
A microbiota e a permeabilidade intestinal tem grande influência na produção de gases (a importância da microbiota foi explicada em outro blog .
A variação na estrutura da barreira intestinal devido a inflamação, doenças crônicas ou má nutrição pode levar ao comprometimento da permeabilidade intestinal permitindo que microrganismos nocivos, suas toxinas e antígenos “vazem” para a corrente sanguínea e, consequentemente, desencadeiem reações sistêmicas.
Vou compartilhar alguns passos para amenizar e eliminar os gases e a distensão abdominal
- Realizar inicialmente uma anamnese sobre o funcionamento intestinal, uso de laxantes, consumo de carnes e leguminosas, consumo de fibras solúveis e insolúveis
- Identificar a etiologia do desconforto! O que o paciente consumiu nas últimas 24h pode ter dado origem ao desconforto abdominal. E quando consome ele mais vezes, sente os mesmos sintomas?
- Avaliar como o indivíduo consome os alimentos. A mastigação é importante para a digestão de todas as refeições.
- Investigar etiologias da distensão: SIBO (supercrescimento bacteriano), avaliar a acidez gástrica, doença celíaca, intolerância a lactose
- Investigar o consumo de alimentos que são mais fermentáveis: açúcares simples, cafeína, consumo de carnes e leguminosas e outros alimentos que possuem enxofre na sua composição (acelga, cebola..)
- Verificar a monotonia alimentar. O consumo dos mesmos alimentos infere em uma flora bacteriana mais sensível.
- Incluir alimentos e práticas que auxiliam na distensão abdominal: consumo de chás (gengibre, funcho, boldo, hortelã, espinheira santa), remolho de leguminosas
OBS: se o paciente não está acostumado a consumir fibras, costumo incluir aos poucos na alimentação! E sempre incentivando a beber água!
Caso o paciente não tenha melhora clínica do seu quadro, pode-se investir em dieta low fodmap, mas com cautela para não haver deficiência nutricional durante o período de exclusão de alimentos!
Curiosidade: como funciona a dieta low fodmap?
A dieta low FODMAPs consiste em restringir temporariamente os alimentos ricos em FODMAPs para controle dos sintomas intestinais até que os “alimentos gatilhos” sejam identificados.
A implementação clínica da dieta com baixo teor de FODMAPs envolve aconselhamento dietético aprofundado sobre a restrição de FODMAPs seguido pela exclusão dietética de FODMAPs por 2 a 6 semanas para testar a resposta à dieta. Onde a resposta sintomática foi alcançada, esses carboidratos são então reintroduzidos na dieta individualmente até a tolerância enquanto monitoram-se os sintomas.
Quer saber mais sobre dieta FODMAPs?
Deixo 2 links de post do blog para vocês se aprofundarem!
https://escolanbe.anniebello.com.br/artigos-publicacoes/80347/
https://escolanbe.anniebello.com.br/nutricao-com-evidencia/low-fodmaps-para-quem/
Outra alternativa é incluir enzimas digestivas de boa qualidade tanto alimentar quanto a sua suplementação!
Alimentos ricos em enzimas digestivas:
- Abacaxi (bromelina)
- Papaína (mamão)
- Lipase (abacate)
- Ginger protease (gengibre)
Contudo, lembro que atualmente não há um método laboratorial confiável para avaliar a deficiência de todas as enzimas digestivas!! Devemos avaliar junto os sinais clínicos e com uma equipe de gastroenterologistas!
Reforço que a suplementação dessas enzimas são complementares às enzimas produzidas pelo pâncreas, portanto, não são considerados
substitutos da ação enzimática digestiva natural.
A resolução que regulamenta a suplementação de enzimas por nutricionistas é a RDC CFN n. 656 de 15 de junho de 2020!
->E para quem deseja saber ainda mais sobre distensão, gravei 2 youtubes sobre isso!
Até para o público veggie! Confere aí:
https://www.youtube.com/watch?v=4ypTZsi5pzY&t=407s
https://www.youtube.com/watch?v=fyv14u6U9NU&t=483s
Referências:
THE LOW FODMAP diet: recent advances in understanding its mechanisms and efficacy in IBS. Am J Gastroenterol,, 2017
PROBIOTICS for Preventing and Treating Small Intestinal Bacterial Overgrowth: A Meta-Analysis and Systematic Review of Current Evidence. J clin Gastroenterol,2017
ACG Clinical Guideline: Small Intestinal Bacterial Overgrowth. Am J Gastroenterol, 2020.