Quando foi a última vez que ouviu falar em algum suplemento para perda de peso? Infelizmente, acredito que não tenha muito tempo. O que mais vemos por aí são promessas de emagrecimento em cápsulas. Elas vivem “pipocando” nas telas dos nossos celulares ou computadores, cada dia é um anúncio diferente chegando até nós.
O problema é que, além de não serem eficazes, esses suplementos ainda colocam a saúde em risco! Para mostrar tanto a ineficácia quanto o perigo, separei algumas referências:
Em 2020, foi publicada uma revisão sistemática com meta análise sobre a eficácia de medicamentos fitoterápicos para a perda de peso na revista Diabetes, Obesity and Metabolism. O artigo incluiu 54 ensaios clínicos randomizados, controlados por placebo. Entre as ervas analisadas estavam Camellia sinensis – o famoso chá verde, Garcinia cambogia e várias outras que costumam ser utilizadas com esse objetivo. E adivinhem: nenhuma promoveu perda de peso significativa.
Mais recentemente, agora em 2021, foi publicada outra revisão sistemática com meta-análise sobre o assunto no International Journal of Obesity. Os autores analisaram as evidências sobre a eficácia de suplementos dietéticos contendo compostos orgânicos isolados para a perda de peso. Foram incluídos nessa análise 67 ensaios randomizados controlados com placebo.
Por mais que ainda sejam necessários mais estudos sobre alguns suplementos, os autores chegaram à conclusão de que não existe evidência suficiente para recomendar suplementos para perda de peso.
Claro que não posso deixar de falar sobre a Diretriz Brasileira de Obesidade, publicada em 2016. Essa publicação chama a atenção para terapias sem fundamentação científica, ou seja, práticas não recomendadas para o tratamento da obesidade. Entre elas, estão os suplementos herbais.
De acordo com essa diretriz, esses produtos não são regulados pela Federal Drug Administration. Eles possuem seus perfis de segurança mal estudados e, portanto, desconhecidos. Inclusive, já foi detectada a presença de metais pesados em vários suplementos herbais brasileiros.
Isso representa um problema grave. Nos últimos anos, foram registrados centenas de casos de insuficiência hepática aguda. Muitos deles em pessoas que relataram tomar suplementos dietéticos à base de ervas, comercializados para fim de redução de peso e queima de gordura. Dos casos iniciais, cerca de um em cada quatro pacientes necessitaram de transplante de fígado de urgência, um em cada oito morreu. Cerca de 60% se recuperaram.
Ela fala ainda sobre uma marca famosa que vende shakes e suplementos para perda de peso, alertando que existem relatos publicados sobre lesões hepáticas após ingestão desses produtos em pelo menos 30 casos em diversos países.
O padrão de lesão predominante foi hepatocelular, mas também foram observados padrões mistos e de colestase, com intensidade desde leve a lesão hepática grave, incluindo cirrose e insuficiência hepática aguda com necessidade de transplante de fígado em dois casos (bem sucedido em um, com óbito no segundo).
Os representantes da marca negam a relação causal entre o consumo dos seus produtos e lesão hepática. Mas ainda continua especulativo o que poderia ter causado dano hepático nos casos publicados, já que os pacientes ingeriram até 17 componentes diferentes que estavam presentes nos produtos ao mesmo tempo. Isso torna quase impossível identificar o composto responsável.
Existem algumas hipóteses: lesão hepática imunomediada ou adulteração de produtos (após um relato de dois pacientes, dos quais um desenvolveu cirrose após contaminação bacteriana de vários produtos da marca com Bacillus subtilis). Como “você sabe quem” é produzida em várias regiões do mundo, especula-se que os produtos contaminados com germes ou compostos químicos poderiam ter sido responsáveis pela hepatotoxicidade.
Uma outra questão importante é o uso da l-carnitina. Ela é muito conhecida como um suplemento que ajuda na redução de gordura corporal. Essa teoria é baseada no fato de que o seu papel é transportar ácidos graxos de cadeia longa do citoplasma para a mitocôndria, facilitando a oxidação desses. Porém a questão é um pouco complicada.
Essa substância tem recebido grande atenção de pesquisadores e indivíduos que visam emagrecer. Tanto que recentemente foi publicada na Clinical Nutrition ESPEN uma revisão sistemática e meta-análise sobre o efeito da sua suplementação na perda de peso e na composição corporal. Constatou-se que ela possui impacto no peso corporal, entretanto, não foi notado efeito significativo na circunferência da cintura nem no percentual de gordura corporal!
Mas o mais importante é que a suplementação de L-carnitina pode ser prejudicial! Em indivíduos com disbiose, as bactérias patogênicas utilizam a carnitina para metabolizar TMA, que será absorvida e transformado em TMAO no fígado, uma molécula altamente aterosclerótica.
Um estudo publicado em 2019 no The Journal of Clinical Investigation investigou o papel da microbiota intestinal e o impacto do histórico dietético e da suplementação com l-carnitina na geração de TMA / TMAO. Foi observado que conversão de l-carnitina em TMAO pela microbiota intestinal é notavelmente menor em individuos veganos e vegetarianos. Ou seja, a geração dessa molécula ateroscletórica é induzida por exposição crônica à l-carnitina e padrões alimentares onívoros. Dessa forma, é preciso tomar muito cuidado com esse suplemento.
Nós já sabemos que o que promove a perda de peso é o balanço energético negativo, através de uma dieta individualizada e um cuidado centrado no paciente, preferencialmente aliado à mudança de comportamento. Não temos como fugir disso!
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Referências:
MAUNDER, Alison et al. Effectiveness of herbal medicines for weight loss: A systematic review and meta analysis of randomized controlled trials. Diabetes, Obesity and Metabolism, v. 22, n. 6, p. 891-903, 2020. doi: 10.1111/dom.13973
Bessell, E., Maunder, A., Lauche, R. et al. Efficacy of dietary supplements containing isolated organic compounds for weight loss: a systematic review and meta-analysis of randomised placebo-controlled trials. Int J Obes (2021). https://doi.org/10.1038/s41366-021-00839-w
ABESO. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA O ESTUDO DA OBESIDADE E DA SÍNDROME METABÓLICA. Diretrizes brasileiras de obesidade. 2016.
TALENEZHAD, Nasir et al. Effects of l-carnitine supplementation on weight loss and body composition: A systematic review and meta-analysis of 37 randomized controlled clinical trials with dose-response analysis. Clinical Nutrition ESPEN, 2020. doi:10.1016/j.clnesp.2020.03.008
KOETH, Robert A. et al. l-Carnitine in omnivorous diets induces an atherogenic gut microbial pathway in humans. The Journal of clinical investigation, v. 129, n. 1, p. 373-387, 2019. doi:10.1172/JCI94601