Há muitos anos existem diversos substitutos de refeição. São shakes, sopas, barras, comida em pó… diversas formas de produtos que são promovidos como substitutos de refeição para perda de peso. A intenção desses produtos é que as pessoas deixem de consumir uma refeição (como o jantar) ou até mesmo todas as refeições e consumam esses produtos no lugar.
São incontáveis pacientes que usam ou em algum momento da vida já buscaram esses produtos para tentar emagrecer. A grande questão é: funcionam? Podem ser utilizados como estratégia nutricional?
Primeiro é preciso que a gente defina o que é “funcionar”. É importante deixar claro que apenas perder peso não é funcionar. Praticamente qualquer suplemento, dieta da moda ou estratégia nutricional promove perda de peso, maior ou menor que outros. Isso se deve principalmente aos déficits calóricos impostos por eles. Acontece que essas perdas são apenas iniciais, normalmente há reganho de peso depois. Há diferentes definições para eficácia na literatura científica, mas de forma geral deve haver perda de pelo menos 5% do peso e que se sustente após 1 ano ou 2.
Para avaliar eficácia de substitutos de refeição, vamos analisar o estudo de McEvedy e cols. (2017): os autores realizaram uma revisão sistemática com meta-análise de ensaios clínicos randomizados e de estudos observacionais de programas para perda de peso, incluindo os substitutos de refeição. Os resultados mostraram que, em média, 36% dos pacientes utilizando esses produtos não conseguiram diminuir mais do que 5% do peso em diferentes períodos (entre 12 e 48 semanas).
Isso é um número considerável, mas algo está nas entrelinhas e merece ser discutido: a quantidade de pacientes que abandonam esse tipo de estudo. No geral, a taxa de abandono foi de 7 a 91%! Nos estudos com substitutos de refeição especificamente, chegou a 40%. Isso é um dado muito grave, não só porque mascara a taxa de sucesso final, como também evidencia que quase metade das pessoas não se adapta ao uso de shakes e outros como refeição. Esse é um ponto importante sobre a eficácia desses substitutos: pouca gente consegue manter em médio prazo.
Agora, o ponto principal é que há um reganho de peso importante após essas intervenções. Um dos motivos é o abandono, como mostrado acima. Ninguém consegue se alimentar de pó e shake por muito tempo. Isso vai contra tudo que acreditamos como nutricionistas: a alimentação não é só nutriente, é também emoção, sentimento, prazer, cultura, psicológico, social. É algo que mexe com todos os sentidos do corpo. Alimento não nutre só fisicamente, é um fator importante para a vivência do ser humano.
Outro aspecto é que, dependendo da composição nutricional desses produtos, a perda de peso pode ser por perda de água e músculos. Um déficit calórico acentuado, sem atividade física e com fornecimento inadequado de macro e micronutrientes favorece a perda muscular. Ou seja, a pessoa não emagrece, ela desnutre. Com menos massa muscular, a balança mostra um peso menor, mas a gordura ainda está lá. Isso é problemático, pois a massa muscular é quem comanda a taxa metabólica de repouso e diversos aspectos metabólicos. Com menos massa muscular a chance de haver efeito sanfona é altíssima.
Então minha mensagem é: não adote essas práticas. Provavelmente você não precisa deste grau de restrição para emagrecer. Procure um nutricionista. É possível perder peso de forma sustentável, saudável e satisfatória fisicamente e psicologicamente!
Referência
MCEVEDY, S. M. et al. Ineffectiveness of commercial weight-loss programs for achieving modest but meaningful weight loss: systematic review and meta-analysis. Journal of Health Psychology, v. 22, n. 12, p. 1614-1627, 2017.
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