Destoxificação, como já falei um pouco nas mídias sociais, é um processo natural, fisiológico, que ocorre a todo momento. A cada garfada nós favorecemos ou prejudicamos os mecanismos de destoxificação. A alimentação contribui tanto para o aumento das enzimas de biotransformação quanto para sobrecarregar o organismo com xenobióticos, tudo depende do padrão alimentar da pessoa.
Dito isso, quero discutir hoje o protocolo de destoxificação. Pacientes obesos normalmente estão em estresse oxidativo, com inflamação e com sobrecarga de xenobióticos. Há muitas evidências associando xenobióticos (como agrotóxicos, contaminantes ambientais, disruptores endócrinos, etc) com obesidade e doenças crônicas no geral. Sendo assim, é preciso que o tratamento dietoterápico dê suporte à biotransformação e eliminação dessas moléculas.
Existe um protocolo de destoxificação para dar início e impulso a esse processo. Ele pode ser aplicado em pacientes diversos, não apenas em obesos, mas certamente os obesos são os mais beneficiados. Os detalhes do protocolo e como aplicá-lo estão no livro que escrevi chamado “Nutrição e Destoxificação – Bases Moleculares para a Prática Clínica”, publicado pela editora Rubio, então se tiver curiosidade leia por lá! Em síntese, o protocolo se resume em retirar temporariamente da dieta alimentos com potencial alergênico e minimizar a exposição a xenobióticos, ao mesmo tempo em que se consome nutrientes e bioativos que modulam as enzimas de fases I e II de destoxificação.
Agora, uma dúvida que recebo bastante dos meus alunos é sobre quando aplicar esse protocolo.
É preciso pensar o seguinte: certamente o protocolo é benéfico, especialmente no paciente obeso, mas é preciso avaliar adesão. É um protocolo com muitas restrições, que apesar de serem temporárias, podem gerar falta de adesão e abandono do tratamento. Se você aplicar esse protocolo já na primeira consulta, é capaz do paciente não voltar mais.
Na Nutrição a adesão e o comprometimento do paciente são essenciais. Sem elas não há tratamento e/ou resultado. Se o paciente já na primeira consulta se depara com essa restrição severa intrínseca ao protocolo de destoxificação, há altas chances de ele não realizar e abandonar o tratamento – mesmo que você explique que é algo transitório. Cada paciente deve ser avaliado dessa forma: prontidão para mudança e disposição para seguir esse protocolo.
Dessa forma, individualize o tratamento. Feito é melhor que perfeito. Se seu paciente precisa do protocolo, mas você sente que ele não conseguirá seguir no início do tratamento, postergue-o. Faça mais à frente, quando ele estiver mais disposto. Adapte o protocolo à sua prática clínica e ao paciente também.
Mais uma vez a mensagem que deixo é que a chave para qualquer intervenção é adesão. Pratique cuidado centrado no paciente!
Referências
Autoimmune Dis. 2014;2014:743616
Environ Health. 2014 Jun 2;13(1):43
Reprod Toxicol. 2013 Dec;42:132-55
Expert Opin Drug Metab Toxicol. 2013 Aug;9(8):927-41
BELLO, A.; FALLER, A. L. K. Nutrição e Destoxificação – Bases Moleculares para a Prática Clínica. 1 ed. 2016.