Você sabe para onde vai a gordura quando ocorre a perda de peso?
A resposta quase unânime é de que ela é convertida em energia. Mas não é bem assim! Isso vai contra a lei de Lavoisier de conservação das massas, que diz que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Com a gordura, assim como para qualquer molécula, a mesma lei se aplica!
O tecido adiposo é composto principalmente de triglicerídeos, que são moléculas com átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. É verdade que quando essas moléculas são metabolizadas no ciclo de Krebs e no transporte de elétrons na mitocôndria, ocorre geração de energia, porém, os átomos não “somem”! Aproximadamente 84% se torna CO2 (dióxido de carbono), que é expelido principalmente pelos pulmões; e 16% se torna H20 (água), que pode ser expelida ou reaproveitada pelo organismo.
De acordo com uma publicação do BMJ Journals, pegando como exemplo alguém que perde 10kg de gordura, 8,4kg são expelidos na forma de CO2 e 1,6kg se transformam em água, podendo ser aproveitada ou não pelo organismo.
Além disso, o mecanismo da perda de peso é acompanhado por uma redução no tamanho dos adipócitos, que pode ser revertida se o peso é recuperado. Ou seja, não “eliminamos” gordura corporal, quando perdemos peso. Na figura a seguir, retirada do artigo The role for adipose tissue in weight regain after weight loss (O papel do tecido adiposo no reganho de peso após o emagrecimento), podemos observar o que está envolvido com a perda e o ganho de peso na mudança dos adipócitos.
Existem algumas alterações metabólicas ligadas ao tamanho dos adipócitos. A sensibilidade à insulina, por exemplo, está inversamente relacionada ao tamanho do adipócito. Comparado com grandes adipócitos, pequenos adipócitos apresentam maiores taxas de captação de glicose estimulada por insulina, níveis mais elevados de oxidação de glicose e uma menor sensibilidade à ação antilipolítica da insulina.
Além disso, existe um mecanismo na perda de peso que é contra-fisiológico. A leptina, hormônio secretado pelas células de gordura que tem como principal função a redução da fome e aumento do gasto energético, tem sua concentração aumentada quando ocorre ganho de peso, entretanto, isso faz com que o organismo se torne menos sensível a ela. Na perda de peso, ocorre rápida redução da leptina, promovendo aumento dos sinais de fome. Fisiologicamente, isso faz com que o indivíduo passe a sentir mais fome, podendo resultar no reganho do peso perdido e ao famoso efeito “sanfona”.
Por isso é muito importante entender todos os processos contra fisiológicos para a manutenção do peso. A obesidade é uma doença crônica e complexa, e não deve ser estigmatizada como falta de força de vontade! Para compreender melhor sobre os estigmas da obesidade e como reduzi-los, veja o post Estigma do peso: Preconceito e Discriminação Social.
O resultado da perda de peso depende de diversos fatores metabólicos, bioquímicos, genéticos, comportamentais, etc. Precisamos compreender todos os processos e deixar claro que o tratamento não se resume a restrição calórica. O tratamento deve ser multimodal, incluindo a abordagem da nutrição baseada em evidência e as principais diretrizes para o tratamento da obesidade.
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