Conheça as dicas da NBE para usufruir dos chás de forma segura !
Repitam comigo: CHÁ NÃO PROMOVE EMAGRECIMENTO!!!
Quem nunca ouviu falar naquele famoso chá que muitas pessoas tomam para emagrecer e “desinchar”? Este e muitos outros são encontrados por aí com o mesmo propósito de promover a perda de peso, mas o que as evidências científicas falam sobre a recomendação do consumo de ervas para o emagrecimento?
Para embasar a nossa discussão, decidi citar uma revisão sistemática com meta análise sobre a eficácia de medicamentos fitoterápicos para a perda de peso, publicada em 2020 na revista Diabetes, Obesity and Metabolism. O artigo incluiu 54 ensaios clínicos randomizados, controlados por placebo. Entre as ervas analisadas estavam Camellia sinensis (o famoso chá verde), Garcinia cambogia e várias outras que costumam ser utilizadas com esse objetivo. E adivinhem: nenhuma promoveu perda de peso significativa!
É importante também saber que ser um produto natural não quer dizer que não traz malefícios à saúde. É preciso considerar posologia, forma de preparo, contra indicações e dose tolerada. Existem plantas que, mesmo sendo conhecidas por sua ação medicinal, podem ser plantas medicinais tóxicas.
Outra questão são os suplementos alimentares e herbais comercializados como estimulantes, que apresentam riscos à saúde. De acordo com a Diretriz da Associação Brasileira de Obesidade, esses produtos não são regulados pela Federal Drug Administration. Eles possuem seus perfis de segurança mal estudados e, portanto, desconhecidos. Inclusive, já foi detectada a presença de metais pesados em vários suplementos herbais brasileiros.
Isso representa um problema grave. Nos últimos anos, foram registrados centenas de casos de insuficiência hepática aguda. Muitos deles em pessoas que relataram tomar suplementos dietéticos à base de ervas, comercializados para fim de redução de peso e queima de gordura. Dos casos iniciais, cerca de um em cada quatro pacientes necessitaram de transplante de fígado de urgência, um em cada oito morreu. Cerca de 60% se recuperou.
As hepatites induzidas por chás de ervas utilizados indiscriminadamente podem ser assintomáticas podendo evoluir para a forma grave.
Mas não achem que sou completamente contra o consumo de chás! Inclusive, eu adoro! Estou apenas dizendo que eles NÃO SÃO INDICADOS PARA O EMAGRECIMENTO! E, claro, sou contra o consumo indiscriminado de ervas que, como eu já disse, podem possuir toxicidade. Existem muitos benefícios à saúde relacionados ao consumo de chás, desde que o uso seja consciente e de forma segura.
Esse tipo de bebida é relaxante e revigorante, fazendo parte do senso comum há séculos.
De acordo com uma publicação de 2019 da Nature, intitulada The science of tea’s mood-altering magic (A ciência da mágica mudança de humor provocada pelos chás), alguns estudos estão tentando identificar os principais compostos ativos presentes no chá que conferem benefícios à saúde mental e se eles trabalham sozinhos ou em combinação com outros compostos presentes na bebida.
As catequinas – antioxidantes, como a epigalocatequina-galato (EGCG) – são responsáveis por até 42% do peso seco do chá verde, e são conhecidas por serem calmantes e melhorarem a memória e a atenção quando consumidas separadamente; O aminoácido L-teanina representa cerca de 3% do peso seco do chá e possui um efeito similar quando ingerida junto com a cafeína. Até 5% do peso seco do chá verde é formado por cafeína, que ajuda a melhorar o humor, o estado de alerta e a cognição.
Dessa forma, o chá possui efeito calmante e, ao mesmo tempo, estimulante.
Estudos epidemiológicos sugerem que o consumo de chá pode reduzir o risco de desenvolver depressão e demência. Contudo, esse tipo de estudo possui limitações, pois outros fatores de estilo de vida ou genéticos podem ser responsáveis por esses resultados positivos.
Uma das possibilidades é que o ato de preparar e beber o chá causa esse efeito, e não o próprio chá, visto que a bebida é frequentemente consumida em condições favoráveis ao relaxamento. Porém, uma coisa é certa: seja por uma resposta biológica direta ou por um contexto social, consumir chá traz benefícios.
Além disso, o uso de plantas medicinais possui vantagens como a valorização e o resgate da cultura popular, o fácil acesso às plantas pela população, a possibilidade de preparo caseiro e o baixo custo. Para usá-las com segurança, o Guia Prático de Plantas Medicinais da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro traz as seguintes recomendações:
- Procure sempre orientação do profissional de saúde para obter um diagnóstico correto;
- Informe ao profissional de saúde sobre todos os medicamentos, plantas medicinais e fitoterápicos que estiver usando;
- Nunca substitua seu medicamento por plantas medicinais ou produtos fitoterápicos sem consultar previamente um profissional de saúde;
- Em gestantes e mães em fase de amamentação não é recomendado o uso de plantas medicinais. Somente tomar sob estrita orientação médica;
- Apenas são seguras e eficazes na dosagem e forma recomendada;
- Esteja seguro de ter entendido as informações dadas pelo médico sobre o uso e preparo das plantas medicinais.
Mas, vou dizer novamente: ERVAS NÃO PROMOVEM EMAGRECIMENTO. Vou repetir isso quantas vezes for necessário, porque fico assustada com a quantidade de pessoas tomando chás com o objetivo de perder peso.
Nós já sabemos que o que promove a perda de peso é o balanço energético negativo, através de uma dieta individualizada e um cuidado centrado no paciente, preferencialmente aliado à mudança de comportamento. Não temos como fugir disso. Então não adianta procurar a fórmula mágica, ok?
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Referências:
MAUNDER, Alison et al. Effectiveness of herbal medicines for weight loss: A systematic review and meta analysis of randomized controlled trials. Diabetes, Obesity and Metabolism, v. 22, n. 6, p. 891-903, 2020. doi: 10.1111/dom.13973
ABESO. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA O ESTUDO DA OBESIDADE E DA SÍNDROME METABÓLICA. Diretrizes brasileiras de obesidade. 2016.
Gilbert, N. (2019). The science of tea’s mood-altering magic. Nature, 566(7742), S8–S9. doi:10.1038/d41586-019-00398-1
Que tal um chazinho? Guia prático de plantas medicinais. Gerencia do Programa de Práticas Integrativas e Complementares. Rio de Janeiro: SMS, 2014 (Série E. Comunicação e Educação em Saúde). 43 p., il.