Quem me acompanha pelo instagram, youtube ou facebook deve ter visto o vídeo que eu postei ontem falando obesidade metabolicamente saudável – se você não assistiu ainda, é só clicar aqui. No estudo: “Metabolically Healthy” Obesity: Fact or Threat?, que eu publiquei na Curr Diabetes Rev junto com grandes pesquisadores do Instituto Nacional de Cardiologia, é relatado que ainda não há consenso quanto à definição de “obesidade metabolicamente saudável”. Em geral, indivíduos com obesidade com perfil de sensibilidade à insulina favorável somado a valores normais de pressão arterial e lipídios séricos, ou sem a síndrome metabólica, foram considerados metabolicamente saudáveis.
Porém, temos que ter um certo cuidado ao falar sobre esse conceito, pois alguns estudos demonstram que, comparados com indivíduos eutróficos e sem complicações metabólicas, pessoas com obesidade apresentam risco aumentado de resultados adversos a longo prazo, mesmo na ausência de alterações metabólicas, sugerindo que não há um padrão saudável de aumento de peso. Em relação a estudos que utilizaram exames de imagem, já foram relatadas alterações cardiovasculares em indivíduos com obesidade metabolicamente saudável, em comparação com indivíduos eutróficos e sem alterações metabólicas.
Em outro estudo, publicado recentemente pelo Journal of the American College of Cardiology, traz um termo considerado menos estigmatizado do que obesidade, denominado Doença Crônica Baseada na Adiposidade (sigla citada no estudo ABCD). Sendo essa, uma doença crônica progressiva complexa que envolve anormalidades na quantidade, distribuição e função do tecido adiposo, caracterizadas por complicações cardiometabólicas, biomecânicas ou psicológicas que conferem morbimortalidade. Ainda dentro desse tema, um novo modelo de doença crônica cardiometabólica é apresentado, mostrando a importância da intervenção precoce e sustentável, baseada em evidências, para promover a saúde cardiometabólica, com foco primário em genética, ambiente e comportamento.
A maioria da hereditariedade de doenças crônicas não é explicada somente pela associação com o genoma, pois essa interação genética-doenças metabólica são determinadas também pelo ambiente e comportamento individual, esses fatores apresentam relação com o fenótipo da doença. Por exemplo, modificações epigenéticas, que surgem no bebê ainda no útero, no caso de uma gestante com diabetes gestacional pode conferir um fenótipo de resistência a insulina no bebê, que persiste na idade adulta potencializando os riscos de desenvolver diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares.
Quanto ao ambiente, é necessário contextualizar e considerar algumas variáveis. Você sabia que status socioeconômicos mais baixo, menor nível de escolaridade, além do elevado consumo de bebida alcoólica, poluição do ar, poluição sonora e falta de acesso a água potável são variáveis diretamente associadas as doenças cardiovasculares? Sim, além dessas variáveis serem de extrema importância a serem investigadas, elas estão correlacionadas a modulações da expressão de genes e com outras vias fisiopatológicas que influenciam no surgimento de complicações cardiometabólicas.
Pensando que muitas vezes os fatores genéticos e ambientais predispõem ao desenvolvimento de doenças, a variável que devemos considerar para intervir é o comportamento, que deve considerar toda a individualidade do paciente, desde a qualidade da dieta até os fatores relacionados ao lazer.
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Ref:
Mechanick, J. I., Farkouh, M. E., Newman, J. D., & Garvey, W. T. (2020). Cardiometabolic-Based Chronic Disease, Adiposity and Dysglycemia Drivers: JACC State-of-the-Art Review. Journal of the American College of Cardiology, 75(5), 525–538. https://doi.org/10.1016/j.jacc.2019.11.044
De Lorenzo A, da Cruz Lamas C, Lessa R, Moreira ASB. “Metabolically Healthy” Obesity: Fact or Threat?. Curr Diabetes Rev. 2018;14(5):405-410. doi:10.2174/1573399813666170502105859