Será que chá de hibisco emagrece? Funciona mesmo? Qual melhor forma de preparo?
Nesse artigo, você vai entender os verdadeiros benefícios dessa infusão, a melhor forma de preparo, o que as evidências falam sobre seu uso e quais são as suas indicações e o verdadeiro potencial desta bebida para sua saúde.
O hibisco (Hibiscus sabdariffa L.) é conhecido popularmente como vinagreira, azedinha, rosélia, caruru-azedo, caruru-da-guiné. É nativo do Norte da África e Sudeste Asiático, dá flores lindas e coloridas e é usado para fazer um chá refrescante há séculos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Instrução Normativa (IN) nº 159, de 1º de julho de 2022, estabelece a lista das partes de espécies vegetais autorizadas para o preparo de chás. Nesta IN, somente a flor (composta por cálice e calículo) do hibisco (Hibiscus sabdariffa L.) pode ser feita infusão, desde que não seja atribuída qualquer finalidade medicinal ou terapêutica.
É uma espécie comumente empregada em diversos setores da indústria, como produção de bebidas (fermentadas ou chá), geleias, sorvetes e corantes. Além disso, essa planta possui um potencial medicinal aplicado em desconfortos intestinais. Os primeiros relatos a respeito das propriedades medicinais e culinárias do hibisco, foram registrados no século XVII pelo médico Bontius. A partir disso, o Hibiscus sabdariffa L. foi disseminado para outros países.
Curiosidade – No Maranhão, a vinagreira desfruta de um lugar especial na gastronomia local como um ingrediente essencial do famoso prato conhecido como arroz de cuxá. Essa planta é considerada uma PANC (Planta Alimentícia não Convencional) e foi reconhecida como um Bem Imaterial do Patrimônio Cultural Brasileiro desde 2000. A origem deste prato remonta às tradições culinárias africanas e indígenas, com influências também da colonização portuguesa. Seu nome, cuxá, derivado do tupi e significa “conserva azeda” (“ku” e “xai”), refletindo o sabor levemente ácido das suas folhas, que são frequentemente combinadas com arroz e camarão seco na culinária maranhense.
Possui em sua composição: fenóis, alcaloides, antocianinas, taninos, flavonoides, incluindo quercetina e rutina, e saponinas. Possui ação anti-inflamatória, antioxidante, hipolipemiante, hipotensor, diurético, laxativo leve e digestivo.
Hibiscus sabdariffa L. pode ser facilmente confundida com a espécie ornamental e comum no Brasil, Hibiscus rosa-sinensis L., dessa forma, faz-se necessária a diferenciação botânica entre elas para assegurar a escolha correta para o preparo da infusão. Aprenda a diferença nas imagens abaixo:
Hibiscus rosa-sinensis L.– Foto Ilustração Canva
Hibiscus sabdariffa L. – Foto Ilustração Canva
Agora vamos sobre a sua relação com o emagrecimento:
O mito de que a infusão de hibisco emagrece é bastante difundido, mas a realidade por trás disso é um pouco mais complexa. Enquanto muitas pessoas acreditam que o consumo regular dessa bebida pode levar à perda de peso, os estudos científicos mostram que sua eficácia nesse aspecto é limitada.
Muitos textos com vieses comerciais ou “modismos”, são quase sempre tendenciosos, escritos para impressionar a fantasia do leitor, e pouco se preocupam em informar de maneira correta ou trazer referências em provas cientificamente válidas, aceitas pela medicina oficial ou uso tradicional comprovado e recomendações de instituições credenciadas. Por isso é tão importante buscar por informações científicas, baseada em evidências.
No entanto, quando se trata de seu efeito sobre o peso corporal, a evidência científica é menos conclusiva. Alguns estudos pré-clínicos e clínicos realizados em animais, especialmente em ratos, sugeriram que o chá de hibisco pode ter um impacto na redução da gordura corporal e no controle do peso. No entanto, esses resultados nem sempre são replicados em estudos com humanos. Hibisco e emagrecimento com embasamento científico para seres humanos ainda é pouco estudado, infelizmente.
É importante reconhecer que os resultados obtidos em estudos com animais nem sempre se traduzem diretamente para os seres humanos.
Na verdade, é na pressão arterial alta que o hibisco reverbera. O chá de hibisco tem sido mais amplamente estudado, inclusive em humanos, por seus potenciais benefícios para o controle da pressão arterial em pacientes hipertensos e pré-hipertensos. Diversas pesquisas demonstraram que o chá de hibisco possui propriedades diuréticas, o que significa que pode ajudar a reduzir a pressão arterial. Um estudo comparou um chá de hibisco com um chá de aparência semelhante, com cor e sabor artificiais, e descobriu que três xícara de chá de hibisco por dia reduziam significativamente a pressão arterial de adultos hipertensos – melhor do que a bebida placebo.
Outro estudo clínico separou de forma aleatória centenas de homens e mulheres com pressão arterial elevada em um grupo controle de aconselhamento e em outro grupo para uma intervenção ativa no estilo de vida. Seis meses depois, o grupo intervenção alcançou uma queda de quatro pontos na pressão arterial sistólica em comparação ao grupo aconselhamento. Pode até não parecer muito, mas uma escala de cinco pontos pode levar a 14% menos mortes por derrame, 9% menos ataques cardíacos fatais e 7% menos mortes gerais em cada ano.
O chá de hisbisco não atua sozinho. Para reduzir a pressão arterial, é necessário, em muitos casos: perder de peso, reduzir o consumo de sódio, praticar exercícios físicos, cuidar da mente, se alimentar de forma saudável. Evidências mostram que associar o chá a uma rotina diária de hábitos saudáveis, oferece um benefício a mais.
Doses recomendadas:
Contraindicações: gravidez, amamentação e crianças menores de 12 anos.
Interações medicamentosas: Diminuição na excreção de diclofenato na urina. O consumo do chá de hibisco é considerado segura e, até o momento, não foram reportados efeitos secundários. No entanto o chá de hibisco não deve ser tomado em conjunto com o medicamento hidroclorotiazida ou qualquer outro diurético, pois pode interagir com o medicamento e promover a diminuição do seu efeito.
No caso de pessoas com hipertensão, diabetes, com doenças nos rins ou fígado, que estejam fazendo uso de medicação ou AINES – anti-inflamatórios não esteroidais, o ideal é que o médico seja consultado antes de ser iniciado o consumo do hibisco, pois assim é possível prevenir hipoglicemia ou hipotensão.
Portanto, enquanto o chá de hibisco pode oferecer benefícios para a saúde, especialmente no que diz respeito à pressão arterial, é importante não exagerar em suas expectativas quando se trata de emagrecimento.
Referências:
1 – Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Planta em evidência: hibisco – https://www.ufpb.br/petfarmacia/contents/documentos/extensao-conversando-2022/planta-em-evidencia-hibisco-pet-farmacia-ufpb.pdf/@@download/file/Hibisco%20-%20vers%C3%A3o%20simplificada%20%281%29.pdf Data de Acesso: 19/03/2024.
Autoria:
Raquel Magalhães – Estagiária da Escola NBE
2 – CHEVALLIER, A. O Grande Livro das Plantas Medicinais – História e Tradição, Propriedades, Usos, Tratamentos Caseiros; São Paulo: Ed. PubliFolha, 2017.
3 – Ministério da Saúde – Você sabe o que são PANCs? Descubra as plantinhas que também são alimentos e você não sabia – https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-alimentar-melhor/noticias/2022/voce-sabe-o-que-sao-pancs-descubra-as-plantinhas-que-tambem-sao-alimentos-e-voce-nao-sabia – Data de Acesso: 19/03/2024
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10 – Tua Saúde – Chá de hibisco: 8 benefícios e como preparar – https://www.tuasaude.com/hibisco/ . Data de acesso: 19/03/2024