Dieta cetogênica é certamente um tema muito controverso e muito popular tanto na ciência quanto nas discussões em mídias sociais atualmente. Há muitos defensores e pessoas que criticam ao mesmo tempo. Mas o que, de fato, é a dieta cetogênica?
Apesar de haverem protocolos diferenciados, a dieta cetogênica em si se caracteriza por uma restrição de carboidratos com oferta de até no máximo 50 gramas por dia para que o organismo não disponha de glicose e/ou glicogênio suficientes para abastecer as células. Isso desencadeará uma baixa secreção de insulina, que por sua vez não conseguirá inibir lipólise no tecido adiposo. Assim, há um fluxo de ácidos graxos livres para o fígado, que transforma esses ácidos graxos em corpos cetônicos para que eles possam ser transportados na corrente sanguínea sem influenciar o pH. Os corpos cetônicos, então, chegam aos órgãos periféricos para serem utilizados como substrato energético.
Os diferentes protocolos alteram a oferta de proteína (uns hiper, outros normo), outros alteram o valor calórico (hipo ou normo), há diferenciação nas fontes de gordura e proteína… mas no geral a base é a mesma: induzir um estado metabólico que mimetiza a cetose.
Em curto e médio prazos, há evidências de que a dieta cetogênica pode ser eficaz na perda de peso (Nutr Hosp. 2019 Oct 17;36(5):1196-1204), principalmente por diminuir o apetite (Obes Rev. 2015 Jan;16(1):64-76), desde que esteja dentro dos desejos e preferências do paciente – afinal o motor do resultado é a adesão (a taxa de desistência pode chegar até 84%!) (Can Fam Physician. 2018 Dec;64(12):906).
Em longo prazo, por outro lado, não há estudos que avaliem resultados e segurança. O que temos de evidência vem dos estudos com epilepsia refratária, uma condição na qual a cetogênica é indicada como tratamento (Mediators Inflamm. 2019 Jun 3;2019:8373060). Em um estudo, 141 crianças com epilepsia refratária e idade média de 7,1 anos adotaram dieta cetogênica por aproximadamente 16 meses. Dessas, 3 mostraram elevação de transaminases hepáticas (indicando algum grau de dano hepático), 3 desenvolveram esteatose hepática e 2 desenvolveram colelitíase. Dessa forma, os autores sugerem que pacientes em uso contínuo desse tipo de dieta devam ser monitorados periodicamente por meio de exames laboratoriais e ultrassonografia abdominal para rastreamento desses efeitos colaterais (Seizure. 2016 Dec;43:32-38).
Claro que esses dados não podem ser totalmente aplicados a adultos sem doenças crônicas ou com doenças diferentes, a população é diferente. Mas até que surjam estudos em longo prazo com adultos (especialmente obesos, que já possuem fatores de risco para danos hepatovesiculares), esses estudos servem para levantar hipóteses e para que tenhamos cautela. O monitoramento deve ser contínuo!
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