Será que a suplementação de B12 realmente pode estar associada à mortalidade? Existem evidências conflitantes na literatura sobre a associação entre concentrações séricas elevadas de B12 e risco de morte. Para esclarecer melhor essa questão, vim falar um pouco com vocês sobre os resultados de um artigo sobre a relação entre as concentrações sérias de B12 e mortalidade, publicado agora em 2020, na BMC Medicine. Os autores utilizaram dados de 24.262 participantes do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), que é um estudo epidemiológico de longo prazo, que foi realizado nos Estados Unidos.
Nessa publicação, baixas concentrações séricas de B12 foram associadas a um aumento moderado na mortalidade por todas as causas. Também houve um pequeno, mas significativo aumento na mortalidade cardiovascular nos grupos com B12 sérica alta ou baixa. Entretanto, a alta ingestão de vitamina B12 na forma de suplementos não foi associada a nenhum efeito adverso na mortalidade e, portanto, pode ser considerada segura!
A ingestão excessiva de vitamina B12 ou o tratamento da deficiência desse nutriente com injeções intramusculares foram considerados seguros por mais de meio século, pois o composto é solúvel em água e o excesso da dose injetada é excretado na urina. Além disso, a capacidade de absorver quantidades excessivas de B12 administrada por via oral é limitada pela capacidade restrita dos receptores no íleo.
Entretanto, tem havido vários relatos sobre a associação entre as concentrações séricas de B12 e aumento do risco de doença, como câncer de pulmão ou até mesmo risco de mortalidade. Embora a maioria dos estudos epidemiológicos não tenha mostrado associação entre B12 sérica e doença cardiovascular, foi sugerido recentemente que concentrações mais altas de B12 sérica estavam associadas a um risco aumentado de mortalidade. No entanto, deve-se observar que nunca foi demonstrada uma relação causal entre as concentrações séricas de B12 e a doença ou mortalidade subsequente.
O aumento das concentrações séricas de B12 pode ser um indicador do aumento da ingestão de carne vermelha, inflamação devido a outras doenças crônicas ou ingestão de suplementos como terapia complementar para outras condições. Evidências recentes não mostraram associação entre a ingestão de suplementos de vitamina B12 e o risco de câncer de pulmão.
Os dados não ajustados desse artigo publicado na BMC Medicine mostraram uma associação em forma de U entre as concentrações séricas de B12 e subsequente mortalidade por todas as causas após uma duração média de acompanhamento de 109 meses em participantes do NHANES com 18 anos ou mais. Após o ajuste para fatores relevantes, incluindo status socioeconômico, educação, etnia, tabagismo, comorbidades e parâmetros laboratoriais, a baixa B12 sérica foi associada a um aumento moderado em todas as causas de mortalidade cardiovascular.
Já as análises de sensibilidade revelaram que este efeito não era mais significativo quando ajustado para os biomarcadores relevantes homocisteína e ácido metilmalônico, que indicam uma deficiência de B12 no tecido. Altas concentrações séricas de B12, maiores que 700 pmol/l, foram associadas apenas a um aumento na mortalidade cardiovascular.
Isso pode ser explicado pelo fato de participantes com diagnóstico de hipertensão, dislipidemia, doenças cardiovasculares e câncer usaram suplementos contendo vitamina B12 com mais frequência do que aqueles sem esses diagnósticos. Congruentemente, não foi encontrada nenhuma indicação de que uma maior ingestão de suplementos contendo vitamina B12 estivesse associada a efeitos adversos na mortalidade.
Os autores propuseram que, em níveis séricos baixos de B12, a mortalidade pode ser impulsionada por concentrações séricas mais altas de homocisteína, já que a homocisteína aumentada eleva o risco para problemas cardíacos. Nos participantes com níveis séricos de B12 mais altos, o risco pode estar relacionado ao aumento da inflamação. Desde o advento da fortificação obrigatória do suprimento alimentar com ácido fólico nos EUA em 1998, a deficiência de vitamina B12 se tornou a principal causa modificável de níveis elevados de homocisteína na população.
Esses resultados são confirmados pelas análises de sensibilidade realizadas nesse estudo, nas quais a razão de risco de baixa B12 sérica para mortalidade por todas as causas e cardiovascular não é mais significativa quando ajustada adicionalmente para as concentrações de homocisteína.
Portanto, a associação entre níveis séricos elevados de B12 e mortalidade cardiovascular, junto com a ausência de qualquer associação entre alta ingestão de suplemento de B12 e mortalidade provavelmente indica “causalidade reversa”. O aumento do uso de suplementos contendo vitamina B12 por pessoas com uma condição cardiovascular crônica apoia essa conclusão, bem como o crescente corpo de literatura de que as concentrações séricas de B12 aumentam em estados de inflamação.
Também existem vários outros fatores que, por si só, podem influenciar negativamente a morbidade e mortalidade a longo prazo e estão associados a maiores concentrações de B12 no soro, por exemplo, alto consumo de carne vermelha. Uma maior ingestão de carne processada e carne vermelha não processada pode estar associada a um pequeno aumento do risco de doenças cardiovasculares e mortalidade por todas as causas. Desta forma, considerar a redução do consumo de carne vermelha pode trazer benefícios para a saúde e para o ambiente.
Por outro lado, a dieta vegetariana melhora o perfil cardiometabólico, porém, não possui fontes alimentares de vitamina B12, necessitando de monitoramento e suplementação para não causar deficiência da vitamina e elevação da homocisteína, aumentando do risco de eventos cardiovasculares. Com o aumento de adeptos ao estilo de vida vegetariano, é de grande importância o acompanhamento do estado nutricional para impedir a deficiência deste e de outros nutrientes.
Então, quanto ao uso de suplementos de B12, você pode ficar tranquilo, ok? Mas não esqueça que o seu uso deve ser sempre sob prescrição profissional! Aproveita e compartilha com os amigos essa informação.
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Referência: Wolffenbuttel et al. BMC Medicine (2020) 18:307 https://doi.org/10.1186/s12916-020-01771-y