A desinformação nutricional está associada ao alto consumo de produtos industrializados, mesmo que os consumidores se tornem cada vez mais conscientes da ligação entre alimentação e saúde, eles dependem muito de informações nutricionais para basear suas decisões.
Com o intuito de reverter esse quadro, o Conselho Federal de Nutricionistas alerta a sociedade sobre a desinformação nutricional e a necessidade de ter cuidado com as informações relacionadas à saúde, alimentação e nutrição. Já a ADA (American Dietetic Association), um das maiores associações de Nutrição, incentiva os profissionais da saúde a assumir um papel proativo no fornecimento aos consumidores de informações nutricionais e auxiliar eles a reconhecer as informações nutricionais passadas pela indústria alimentícia.
- O que são as alegações em saúde?
Uma alegação nutricional é qualquer alegação sobre produtos alimentícios que declare, sugira ou implique que um alimento tenha propriedades nutricionais benéficas devido à energia que fornece ou não.
Um dos principais objetivos das Alegações de Nutrição e Saúde (NHCs) é influenciar nas decisões de compra e consumo de alimentos.
A maior dificuldade em relação a isso, é o ceticismo saudável aplicado nas reportagens de jornais, televisão e blogs na internet, que fornecem conselhos ao consumidor. Posso afirmar que, com isso, obviamente, a compreensão do público sobre a ciência nutricional fica dificultada.
Além disso, o que mais me assusta como nutricionista é o modismo alimentar de certos alimentos low-carb, low-fat, vegan, plant-based e de suplementos alimentares que garantem curar doenças, transmitir benefícios especiais para a saúde e/ou oferecer rápida perda de peso. Uma questão é comprarmos os alimentos porque gostamos dele e sabemos que não possuem poderes milagrosos, já outra questão é comprarmos porque acreditamos nos potenciais benefícios.
Estudos científicos indicam que o conhecimento foi um fator-chave que influenciou o quanto os indivíduos acreditam nas reivindicações. Outro ponto são as palavras utilizadas pela indústria alimentícia:”Baixo em gordura “ ”Baixo em carboidrato” ”Sem açúcar” -> induzem o consumidor a pensar que são alimentos mais saudáveis!!
A própria ADA no seu posicionamento” Food and Nutrition Misinformation” já relata que a desinformação alimentar e nutricional pode ter efeitos nocivos sobre a saúde, o bem-estar e a situação econômica dos consumidores.
E essa desinformação inclui a propagação de modismos alimentares.
Os modismos alimentares envolvem crenças irracionais ou exageradas de que comer (ou não comer) alimentos específicos, suplementos nutricionais ou combinações de certos alimentos podem curar doenças, transmitir benefícios especiais à saúde ou oferecer perda de peso rápida. Isso são alegações de saúde falsas e enganosas.
– Quais os custos da desinformação?
O custo da fraude na saúde pode ser estimado em bilhões de dólares!
Só a indústria de dietas ganha anualmente cerca de US$ 150 bilhões nos EUA e na Europa com suplementos e dietas da moda. Dietas essas que são amplamente ineficazes e têm pouco benefício na saúde. A
o incentivar a dieta ‘ioiô’ as dietas da moda podem levar ao aumento da morbidade e risco de insatisfação com a vida e psicopatologia (por exemplo, compulsão alimentar, restrição alimentar, ansiedade, depressão e interrupção do sono).
Bancos de dados online documentaram quase 400.000 mortes e aproximadamente US$ 3 bilhões em danos econômicos devido ao uso de “terapias” alternativas não comprovadas e não regulamentadas, muitas vezes no lugar da prática clínica legítima!
A disseminação dessas informações nutricionais mal interpretadas atinge a curto e longo prazo a mídia, os consumidores e até a indústria de alimentos e suplementos.
No curto prazo, para os indivíduos, danos físicos podem ocorrer se houver interações droga-nutriente desconhecidas ou componentes tóxicos nos alimentos. Danos físicos também podem ocorrer se o uso de produtos levar os indivíduos a adiar ou evitar a procura de cuidados de saúde adequados, ou se interferir na educação e práticas nutricionais adequadas.
Existe o risco de que os pacientes abandonem tratamentos médicos comprovadamente eficazes ou medidas de prevenção em favor de práticas que não demonstram valor terapêutico, às vezes levando ao fracasso do tratamento para condições críticas que podem até levar à morte.
Há probabilidade frequente de atrasos perigosos e perda de oportunidade na aplicação de medicamentos, procedimentos e técnicas reconhecidas e endossadas pela comunidade científica.
O dano econômico pode ocorrer quando os supostos remédios, tratamentos e curas não funcionam e quando os produtos são comprados
desnecessariamente. A nível de sistema de saúde, terapias não comprovadas podem contribuir para o aumento dos custos dos procedimentos de saúde.
Os custos de longo prazo da desinformação alimentar e nutricional também incluem questões psicológicas persistentes, com traumas psicológico-físicos e uma sensação de autoeficácia diminuída. Tudo isso vai contra a dignidade das pessoas, ameaçando sua integridade moral.
A desinformação nutricional pode levar os consumidores a perder a fé nas fontes tradicionais de informação nutricional e a prestar menos atenção e credibilidade aos resultados de novas descobertas. Pode até corroer sua percepção de capacidade de gerenciar com confiança um estilo de vida saudável. Quando a desinformação alimentar e nutricional é comum, é muito mais difícil ganhar a confiança do público para futuras iniciativas para melhorar a saúde pública!
-Por que a desinformação sobre alimentos e nutrição está em ascensão?
A proliferação de alimentos funcionais e suplementos dietéticos levou a uma explosão de desinformação porque o número desses produtos ultrapassou as regulamentações federais e querendo ou não, o uso de alguns suplementos alimentares se tornou rotineiro em públicos específicos, como no mundo do esporte.
As notícias sobre nutrição raramente fornecem contexto e dados verdadeiros para que os consumidores interpretam os resultados.
Há uma incongruência gritante entre as alegações comerciais de saúde e bem-estar e as evidências citadas em apoio a elas. Além disso, quando os estudos desses produtos, ideias, conceitos são apresentados como evidência de eficácia, eles tendem a ser de baixa qualidade e com alto risco de viés metodológico. Isso é uma mal tradução da nutrição baseadas em evidências.
Dessa forma, cabe aos profissionais aconselhar seus pacientes a interpretar a informação que está sendo passada de uma maneira prática!
Deixo aqui um breve resumo de como analizar se os resultados de uma evidência podem ser extrapolada ou não:
Muitas vezes, os estudos que não possuem efetividade nem eficácia generalizam os resultados de um estudo para uma população mais ampla não representada pelo estudo, extrapolam o tamanho de um efeito. Além disso, as histórias muitas vezes não notam quanto mais (ou menos) de um alimento deve ser consumido, a frequência e características da população do estudo.
Qual o papel do nutricionista no combate a desinformação nutricional e pseudociencia?
Os nutricionistas têm a responsabilidade de esclarecer e desmistificar as mensagens nutricionais direcionadas ao público leigo. É responsabilidade de todo profissional de nutrição manter-se atualizado o suficiente com a literatura científica para poder identificar e combater com precisão a desinformação alimentar e nutricional e não contribuir para isso.
E para que isso se expande os profissionais precisam ser treinados em habilidades críticas de pesquisa! A figura abaixo fornece estratégias para os nutris usarem na interpretação e comunicação de informações nutricionais ao público
Ademais, aproveito e salvo aqui algumas dicas finais para os meus colegas de profissão <3
- Direcione repórteres e indivíduos para fontes responsáveis de informação alimentar e nutricional;
- Corrobore com a indústria de alimentos para fornecer informações nutricionais confiáveis;
- Mantenha-se atualizado com a ciência da nutrição mais recente. Temos a Escola NBE com que tem de mais recente de evidências de qualidade na nutrição para te ajudar nesse upgrade!
- Coopere com outros profissionais de saúde para expor a desinformação
e pseudociência antes que essas ideias sejam amplamente aceitas
Referências:
THE IMPACT of Nutrition and Health Claims on Consumer Perceptions and Portion Size Selection: Results from a Nationally Representative Survey. Nutrients, 2018
ARE the Claims to Blame? A Qualitative Study to Understand the Effects of Nutrition and Health Claims on Perceptions and Consumption of Food. Nutrients, 2019.
POSITION of the American Dietetic Association: Food and Nutrition Misinformation. Journal of the academic of nutrition and dietetics, 2006
TILLER, NB, et al. Baseless Claims and Pseudoscience in Health and Wellness: A Call to Action for the Sports, Exercise, and Nutrition-Science Community. Sports Med. 2022 Jun 10. doi: 10.1007/s40279-022-01702-2.