Atualmente há um excesso de informação e desinformação sobre alimentos e nutrição que causa confusão nas pessoas, já que frequentemente surgem novas dietas e alimentos milagrosos, além de um novo influencer que também quer dar sua opinião. Mas cuidado: Existe muita fake News quando o assunto é nutrição!
Nos últimos anos, me vi imersa em um mundo de “especialistas”, “gurus”, charlatões e “profissionais fake” da nutrição e de outras áreas da saúde. São centenas de pessoas que simplesmente fingem ter títulos, mas não têm qualificação e nem compreensão do que afirmam estar ensinando! Eles estão atrás de apenas uma coisa: a autopromoção, com uma propaganda contínua de estereótipos relacionados a obesidade e estigma do peso, perda de peso, dietas e atividades de um nutricionista.
O conhecimento real é subestimado e falsas ideias são supervalorizadas, assim como achismos e expectativas. Falas com termos difíceis e convicção os fazem parecer profissionais, mas na verdade, não são.
São os chamados profissionais fake. Eles usam de falsos títulos e especializações (vide o boom da medicina integrativa, ortomolecular, medicina antiaging, medicina natural e dos especialistas em fisiologia hormonal) para oferecer às pessoas soluções rápidas, milagrosas e “indolores”, perpetuando as mesmas ideias desgastadas e pré-conceitos.
Ser fake nunca foi tão fácil como agora por 4 motivos:
– Explosão de fake News: num mundo das notícias falsas e da desinformação, todos são autoproclamados especialistas. Opinião pessoal virou conselho de especialista!
– Glamourização das redes sociais: popularidade, autopromoção e número de seguidores hoje importam mais do que o conhecimento e a experiência. Quanto mais seguidores tem o perfil, mais credibilidade ele ganha e com base apenas no número de seguidores mesmo.
– Crescimento de sistemas de educação sem credenciamento adequado pelos órgãos competentes: qualquer pessoa cria um curso online e propaga aquilo que lhe convém, sem fiscalização e evidência.
– A maioria dos interessados nesses “experts” busca soluções ágeis que não envolvam mudar seu estilo de vida, muito menos sua alimentação.
Já percebemos que o público em geral usa amplamente as mídias sociais para consumir e compartilhar conteúdos obre alimentos, nutrição e dieta. E isso é frequentemente promovido por celebridades, nutricionistas, defensores de dietas especiais e programas de perda de peso, entre outros.
Os profissionais fake identificam e definem dieta e exercícios como fatores a serem controlados para a perfeição corporal. Ao consumir suplementos dietéticos, shakes e usar roupas esportivas de marcas, os influenciadores e profissionais fake prometem uma maneira simplificada de melhorar a aparência como a chave para a felicidade, moldando atitudes, crenças e comportamentos.
Uma pesquisa realizada em 2020 analisou o tema “alimentação saudável” em mais de 1,2 milhão de tweets e identificou que essa discussão é dominada por não-profissionais de saúde (influencers e profissionais fake). Eles ainda observaram que há uma fala generalizada que busca criar uma falsa ideia que determinada estratégia nutricional ou dieta é superior e mais eficaz que outras.
Desta forma, em sua maioria, promovem tratamentos farmacêuticos para perda de peso, ocultando informações sobre os potenciais efeitos colaterais, ou promovem determinado padrão alimentar sem evidência de segurança e eficácia em longo prazo na população em geral.
Nesse mesmo ano, um estudo piloto com influencers do Reino Unido descobriu que apenas 1 em cada 9 blogueiros realmente forneceu informações precisas e confiáveis sobre alegações de controle de peso e de saúde.
E uma outra pesquisa recente publicada na BMC Public Health (2019) com influenciadores de mídia social, descobriu que os influenciadores estudados eram inadequadamente qualificados, apresentando opiniões contrárias às diretrizes nutricionais e políticas públicas de saúde. Além disso, seus discursos eram desatualizados, incompletos e imprecisos, sendo muitas vezes enganoso e antiético.
Essas promoções de modismos, desinformação e interpretações errôneas têm consequências bem documentadas em estudos e incluem atraso ou falha em buscar ou continuar com o tratamento médico e nutricional legítimo, desnutrição e interferência em uma educação nutricional sólida e políticas de saúde pública, conforme relatado no posicionamento da Associação Americana de Dietética (ADA).
Por isso, é importante saber reconhecer um farsante, já que hoje em dia nunca foi tão fácil perder seu tempo – e seu dinheiro – com falsificações. E como fazer isso?
– Conheça o profissional: celebridade não é profissional de saúde. Verifique se o profissional é qualificado e se possui registro nos órgãos competentes.
– Desconfie de promessas milagrosas: dietas e alimentos milagrosos não existem! Por isso, certifique-se de que o profissional se trata de um nutricionista qualificado e não coloque a sua saúde em risco.
– Cheque as referências: verifique quais referências o profissional utiliza para embasar sua informação e se é aprovada pelos conselhos de saúde.
Busquem profissionais qualificados para cuidar da sua saúde! Profissionais que são engajados em novos debates e que estão constantemente se atualizando com novas evidências.
E lembre-se do velho ditado: quando parece bom demais para ser verdade, geralmente não é. Tenha uma dose saudável de ceticismo e não se esqueça: prescrição dietética é atividade privativa do Nutricionista! Não deixe a sua saúde na mão de qualquer um.
Referências:
Lynn, T., Rosati, P., Leoni Santos, G., & Endo, P. T. (2020). Sorting the Healthy Diet Signal from the Social Media Expert Noise: Preliminary Evidence from the Healthy Diet Discourse on Twitter. International journal of environmental research and public health, 17(22), 8557.
Forrest A. Social Media Influencers Give Bad Diet and Fitness Advice Eight Times Out of Nine, Research Reveals.2019 Available online:
Sabbagh C, Boyland E, Hankey C, Parrett A. Analysing Credibility of UK Social Media Influencers’ Weight-Management Blogs: A Pilot Study. Int J Environ Res Public Health. 2020
Pilgrim, K., & Bohnet-Joschko, S. (2019). Selling health and happiness how influencers communicate on Instagram about dieting and exercise: mixed methods research. BMC public health, 19(1), 1054.
Selling health and happiness how influencers communicate on Instagram about dieting and exercise: mixed methods research – BMC Public Health
Wansink B; American Dietetic Association. Position of the American Dietetic Association: food and nutrition misinformation. J Am Diet Assoc. 2006 Apr;106(4):601-7.