Sabemos que a obesidade é um problema de saúde pública, devido às doenças que a acompanham e os dados preocupantes de prevalência em adultos. Mas pouco se fala sobre a devida importância de prevenir a obesidade já na infância.
Podemos olhar a questão da infância e sua relação com a alimentação sob diferentes prismas: social, psicológico e biológico.
Pensando no social e no psicológico, a infância é onde os hábitos alimentares são construídos. Na introdução alimentar, o maior erro é preparar comida do bebê separada da comida da casa. Bebês devem consumir refeições equilibradas e nutritivas, assim como os adultos. Se há necessidade de preparar uma refeição separada, sinaliza que as refeições dos outros membros da família não estão adequadas. E qual o problema disso, pensando na criança?
O problema é que somos seres que aprendem, na infância, a partir da imitação. Somos uma espécie que observa os adultos e repete seus comportamentos, pois inferimos que eles possuem a sabedoria e os hábitos que nos permitem sobreviver. Um bebê de 1 ano que olha o prato dele com alface e brócolis, enquanto os pratos dos pais não têm salada e está recheado de frituras, tende a rejeitar a própria refeição e querer a dos pais. O exemplo vem de casa!
Outro ponto importante é que a relação com a comida começa a ser desenvolvida aqui. Nosso cérebro é muito complexo e é capaz de associar sentimentos a alimentos. Então voltando ao exemplo anterior, o bebê rejeita a salada e faz birra por isso. Se alguém brigar e obriga-lo a consumir a salada, ele vai começar a associar salada com sentimentos negativos, com gritos, com briga. Isso é inadequado, visto que a alimentação deve trazer memórias de sentimentos bons. Esse sentimento adverso só agravará a rejeição à salada. A solução, novamente, é os pais darem exemplo consumindo a mesma coisa que o bebê.
Pensando no biológico, a infância e a adolescência são momentos de anabolismo intenso. O gasto energético é imenso nessas duas fases, devido ao crescimento. Sendo assim, para que crianças e adolescentes fiquem com excesso de peso, é preciso que MUITAS calorias sejam ofertadas por dia. E, ainda, esse crescimento envolve a proliferação e maturação de células do corpo, inclusive as do tecido adiposo. Quando um adulto fica obeso, significa que seus adipócitos hipertrofiaram, conseguindo armazenar mais gordura na mesma célula. Na infância, contudo, o excesso de peso faz com que as células adiposas se multipliquem (ou seja, hiperplasia) e depois hipertrofiem. Tendo mais células armazenando gordura, na idade adulta fica bem mais difícil fazer com que essa gordura seja perdida, devido à quantidade aumentada de adipócitos. Se você quiser saber mais detalhes sobre esse assunto e outros relacionados a Nutrição Materno Infantil, clique aqui para participar da aula ao vivo gratuita e conhecer mais sobre minha visão no assunto!
Listei só alguns dos fatores psicosociobiológicos da alimentação na infância referentes à prevenção de obesidade da vida adulta, mas ainda temos diversos outros. A mensagem que quero deixar com esse post é: alimentação saudável começa na introdução alimentar, aos 6 meses de idade! Nenhum ser humano, muito menos bebês e crianças, precisa de biscoitos, doces e demais alimentos ultraprocessados. Bebê e criança precisa de comida de verdade!
Referências
Gerontology. 2014;60(3):222-8.
Pediatr Clin North Am. 2015 Aug;62(4):821-40