Entre muitas estratégias estudadas para perda de peso, um contraste comum tem sido as dietas com baixo teor de gordura e as com baixo teor de carboidratos. Para sanar essa dúvida, foi realizado o estudo DIETFITS, um dos melhores na área, que foi publicado em 2018 no JAMA.
Foram selecionados 609 adultos, sendo 57% mulheres, não-diabéticos, com IMC médio de 33kg/m² e média de idade de 40 anos. A dieta Low Fat foi seguida por 305 participantes e a Low Carb por 304. A distribuição dos macronutrientes nas dietas Low Fat e Low Carb foi 48% e 30% para carboidratos, 29% e 45% para gordura, e 21% e 23% para proteína, respectivamente.
Também foi realizado um teste para determinar a presença de polimorfismos de nucleotídeos únicos de três genes (PPARG, ADRB2 e FABP2) relacionados ao metabolismo de gorduras e carboidratos. Dos participantes, 40% tinha um genótipo que se acredita responder a uma dieta de baixo teor de gordura e 30%, de baixo teor de carboidratos.
O desfecho primário do estudo foi a mudança no peso corporal ao final de 12 meses de intervenção. Determinar se o padrão de genótipo ou a secreção de insulina estão relacionados aos efeitos dietéticos na perda de peso também foi um dos objetivos.
O grupo Low Fat diminuiu a sua ingestão diária de gordura e o Low Carb, sua ingestão diária de carboidratos. Mas ambos acabaram consumindo de 500 a 600 calorias a menos por dia do que antes. As perdas de peso observadas foram de –5,7 kg no grupo com baixa ingestão de gorduras, e de –6,0 kg naquele com baixa ingestão de carboidratos. Sendo assim, não foram observadas diferenças significativas entre as dietas em relação à perda de peso. A única diferença foi que o colesterol LDL foi significativamente menor no grupo de baixo teor de gordura e o HDL foi significativamente maior no grupo de baixo teor de carboidratos.
Além disso, o padrão de genótipo e a secreção basal de insulina não foram associados aos efeitos dietéticos na perda de peso. Ou seja, não houve diferença significativa na mudança de peso entre os participantes “compatíveis” vs “incompatíveis” com a sua dieta. Também não foi observada interação entre DNA e dieta para circunferência da cintura, IMC ou percentual de gordura corporal. Sendo assim, os testes genéticos se mostraram uma ferramenta de pouca utilidade nesse sentido.
Mas a questão vai muito além da definição da dieta. No DIETFITS, todos os participantes foram solicitados a não contar calorias e, durante um ano, eles tiveram acesso a educadores de saúde que os guiaram em estratégias de mudança de comportamento. Essas estratégias incluíram conscientização emocional, estabelecimento de metas e desenvolvimento de autoeficácia, para evitar padrões alimentares pouco saudáveis. Além disso, os dois grupos foram encorajados a manter as recomendações de atividade física dos EUA, que consistem em 150 minutos de atividade física aeróbica moderada por semana.
Dessa forma, foi concluído que não existem diferenças significativas na perda de peso entre as dietas Low carb e Low Fat. Essas duas estratégias levam à mesma perda de peso no longo prazo, sem necessidade de contagem de calorias, desde que ambas foquem em um estilo de vida saudável. Isso envolve a prática de atividade física e a qualidade nutricional do que se é consumido. Como disse o pesquisador principal desse estudo, Christopher Gardner, “Lentilhas e pirulitos são Low Fat, abacate e manteiga são Low Carb.” Ou seja, em relação à alimentação, o importante é seguir uma dieta saudável, baseada vegetais e alimentos integrais, evitando os ultraprocessados.
De acordo com os resultados desse estudo, não podemos indicar com preferência uma ou outra estratégia dietética. O artigo reforça a ideia de que, independente das proporções dos macronutrientes presentes, a perda de peso será a consequência lógica da menor ingestão calórica, foco em alimentos saudáveis e prática de atividade física. O maior fator de sucesso terapêutico é a capacidade de adesão ao tratamento. Assim, respeitar valores, culturas e preferências é importante para buscar a melhor opção dietética individualmente. Algumas estratégias podem funcionar melhor para alguns indivíduos do que outros, e nenhuma dieta deve ser recomendada universalmente. É por isso que eu sempre digo: a melhor dieta é a que gera adesão!
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Referência:
GARDNER, Christopher D. et al. Effect of low-fat vs low-carbohydrate diet on 12-month weight loss in overweight adults and the association with genotype pattern or insulin secretion: the DIETFITS randomized clinical trial. Jama, v. 319, n. 7, p. 667-679, 2018. doi:10.1001/jama.2018.0245