Ter um consumo adequado de proteínas é essencial para atingir saciedade, preservação ou aumento de massa muscular, fornecimento de substratos para a síntese de neurotransmissores, dentre tantos outros fatores. O que vejo ser negligenciado, no entanto, é o TIPO de proteína ingerida. Cada fonte proteica funciona de uma forma diferente. A carne vermelha não deve ser a principal fonte proteica, pelo contrário. Deve-se dar prioridade para proteínas vegetais e proteínas de aves, peixes e de laticínios. Para entender o porquê disso, trago hoje o artigo da imagem, de Windey e colaboradores (2012). Pensando apenas na microbiota e no intestino, vejam quantos efeitos adversos o excesso de carne vermelha pode promover:
– Grupamento heme – tão presente na carne vermelha – pode formar compostos nitrosos via microbiota. Esses compostos são comprovadamente carcinogênicos;
– Metabolização de ácidos biliares pela microbiota patogênica (gerada a partir de excesso de carne vermelha) em compostos secundários citotóxicos;
– Fermentação de proteínas mal digeridas no cólon, gerando amônia, amina e compostos sulfurados, que danificam as células intestinais;
– Consumo de aminas heterocíclicas formadas durante a cocção da carne, principalmente se for grelhada, frita ou assada. Esses compostos são também tóxicos aos enterócitos.
Quando se consome muita proteína, o excesso acaba chegando ao intestino grosso na forma de proteína mal digerida, que será então fermentada e gerará, além desses compostos mencionados, flatulência e disbiose. Esses quatro mecanismos explicam parcialmente porque o consumo exacerbado de carne vermelha pode ser fator de risco para o desenvolvimento de câncer coloretal.
Outro artigo, de Yao e colaboradores (2016), confirma o que vemos aqui sobre microbiota e aprofunda mais. Os autores mostram que o excesso de proteínas pode gerar diminuição de bactérias Bifidobacterium (probióticas) e aumento das bactérias Clostridium e Enterococcus, que são patogênicas. Assim, o excesso de carne vermelha não só induz disbiose, como também é substrato para síntese de metabólitos citotóxicos.
E pensando em sustentabilidade, carne vermelha é a campeã em gastos de recursos naturais durante a criação de gado. Dessa forma, tanto pensando em saúde quanto no planeta, reduzir o consumo de carne vermelha é essencial.
Então as lições que ficam são: realize dieta sob supervisão de nutricionista; dieta hiperproteica deve ser bem planejada e acompanhada de cuidados com o intestino, como alto consumo de frutas e hortaliças (nada de hiperproteica que elimina esses grupos de alimentos, a não ser em curtíssimo prazo); nem comentei sobre salsicha, linguiça e presunto, porque esses produtos nem devem fazer parte da rotina.
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REFERÊNCIAS
WINDEY, K.; DE PRETER, V.; VERBEKE, K. Relevance of protein fermentation to gut health. Molecular Nutrition & Food Research, v. 56, n. 1, p. 184-196, 2012.
YAO, C. K.; MUIR, J. G.; GIBSON, P. R. insights into colonic protein fermentation, its modulation and potential health implications. Alimentary Pharmacology & Therapeutics, v. 43, n. 2, p. 181-196, 2016.