No blog de hoje venho compartilhar com vocês sobre como o ambiente obesogênico influencia no desenvolvimento das crianças e como a mudança de comportamento familiar é sim fundamental para a mudança de comportamento da criança que possui obesidade.
Dados coletados em 2019 do Ministério da Saúde confirmam que 29,3% das crianças possuem excesso de peso e 200 mil crianças estão com obesidade grave. Mas o que influencia para que isso esteja acontecendo? Será que é só mesmo o ambiente obesogênico que acarreta nestes dados ou fatores como a genética também estão ligados?
Os hábitos alimentares de uma criança são formados tanto pelos alimentos em que ela está exposta e aos que são apresentados a ela desde o início da introdução alimentar!
Dessa forma, o ambiente obesogênico familiar, sendo de responsabilidade dos pais e o ambiente externo contribuem com a grande porcentagem de crianças obesas!
Foi realizada uma revisão sistemática para examinar as associações entre os diferentes níveis de ambiente obesogênico e obesidade infantil. A revisão inclui todos os artigos publicados na Biblioteca Cochrane, PubMed, Web of Science e Scopus por 31 de dezembro de 2018. Um total de 339 associações em 101 estudos foram identificados. O estudo revelou que a disponibilidade de pontos de venda de alimentos não saudáveis (por exemplo, lojas de conveniência e restaurantes de fast-food) estão associados à obesidade.
Fatores antes do nascimento também implicam no desenvolvimento da obesidade, como exposição pré-natal ao diabetes mellitus gestacional (hiperglicemia, hiperinsulinemia), tabagismo materno e obesidade materna correlacionam-se com o aumento da incidência da obesidade infantil, independente do peso ao nascer.
O aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses correlaciona-se com uma menor incidência de obesidade infantil em estudos de coorte, por isso, ele deve ser o principal alimento, inclusive durante a introdução alimentar. O consumo de bebidas açucaradas (suco, refrigerante), aumento do consumo de fast food, comer enquanto assiste televisão (TV), pular o café da manhã, redução refeições em família, comendo juntos, e reduza o consumo diário de leite, frutas, e a ingestão de vegetais foram todos associados a maiores taxas de obesidade infantil.
Mas a obesidade infantil pode estar associada a genética?
Sim! Tanto a genética quanto a disfunções hormonais!
Defeitos raros de um único gene, que resultam especificamente em obesidade, são aqueles que afetam a via reguladora da leptina-melanocortina. Os genes identificados até agora incluem leptina, o receptor de leptina, pró-opiomelanocortina, pró-hormônio convertase 1, receptores de melanocortina (MCR) 3 e 4. Destes, apenas mutações MCR4 são comuns, representando aproximadamente 4% dos casos de obesidade grave de início precoce e infantil.
Em relação às questões hormonais, o hipotireoidismo, a síndrome de Cushing e a deficiência de hormônio do crescimento podem apresentar ganho de peso e retardo do crescimento. O nível de leptina, hormônio produzido pelos adipócitos que atua na nível do hipotálamo para regular o peso e induzir a saciedade, é elevado na obesidade.
Por isso, o tratamento da obesidade infantil é amplo e depende de vários fatores, que devem ser abordados aos poucos e a longo prazo!
-> Dentre eles, estão ajustes na dinâmica familiar, incentivo na prática de atividade física, apoio psicossocial, estipular objetivos e tarefas a cada consulta!
OBS: Mas o mais importante é desconstruir a crença de que existe alimento proibido, e reforçar que sejam respeitadas as quantidades estabelecidas previamente.
Por isso, além de mudar o ambiente familiar, o enfoque central do tratamento da criança obesa é a EDUCACÃO NUTRICIONAL, voltada para uma alimentação saudável e prática regular de atividade física. A terapia comportamental centrada na família deve se concentrar em pequenos objetivos para melhorar tanto o comportamento alimentar quanto de atividade física.
Estudos demonstram modesta perda de peso de 5% a 10% com melhora dos parâmetros cardiometabólicos.
Saliento que estressores psicossociais e comorbidades podem dificultar a mudança de comportamento e o aconselhamento empático usando técnicas como a entrevista motivacional pode ser um complemento útil à terapia.
As estratégias de prevenção devem ser implementadas em vários domínios, pois as crianças são influenciadas no contexto de suas famílias, culturas e em comunidades. Como demonstra o esquema a seguir:
Por fim, reforço sempre que a criança segue o exemplo que ela tem em casa. Em termos práticos, faz pouco sentido recomendar mudanças de hábito para as crianças se os pais não estão envolvidos. Caso os pais não estejam conscientes disso, é nosso papel como profissionais da saúde alertar que elas possuem um risco aumentado para hipertensão, colesterol alto, diabetes, e apneia do sono.
Sem contar que a obesidade é o principal fator que implica na baixa autoestima, em uma maior probabilidade de sofrer bullying, em menores níveis de frequência escolar e piores resultados escolares.
Por isso, a nossa missão como profissionais da saúde é intervir tanto na educação nutricional da criança, estimulando a alimentação saudável e a prática de exercícios físicos quanto na educação nutricional familiar!
Recomendo a todos a leitura na íntegra de ambos os artigos, pois ambos trazem estratégias que podemos utilizar a nível social e profissional!
REFERÊNCIAS:
THE RELATIONSHIP between the home environment and child adiposity: a systematic review. International Junior of Behavioral Nutrition and physical Activity.
CHILDHOOD Obesity Causes, Consequences, and Management. Pediatric Clinics of North America, 2015.