Tão importante quanto discutirmos o impacto da alimentação sobre nossa saúde é discutirmos o impacto ambiental dela sobre o planeta. Sabemos de alguns séculos para cá os seres humanos vêm modificando substancialmente a relação com o meio-ambiente, lançando poluentes nas águas, nas terras e no ar a todo instante. Essa situação chegou em um ponto insustentável, onde o prognóstico não é bom. As estimativas são que em breve os oceanos aumentarão de temperatura, o que impacta não só na vida marinha, como também em todos os ecossistemas.
Nesse contexto, é fundamental que pensemos ações individuais que possam pelo menos reduzir os danos causados à natureza – e é nesse assunto que a alimentação possui especial ação. Olhando para as evidências, existe um artigo muito interessante de Rosi e colaboradores em que os autores analisaram o impacto ambiental de alguns padrões alimentares.
Eles demonstraram que dietas onívoras foram as que causaram uma pegada maior de carbono, água e ecológica (parâmetros utilizados para estimar quanto a produção de cada alimento gera de emissão de dióxido de carbono, quanto utiliza de água e qual o impacto ambiental final, respectivamente). Dietas ovolactovegetarianas e veganas, por outro lado, causaram impacto significativamente menor do que a onívora (Sci Rep. 2017 Jul 21;7(1):6105).
Esses dados são muito importantes, pois demonstram que produtos de origem animal geram prejuízos muito grandes durante sua cadeia produtiva. A explicação para isso é o que vemos quando pensamos no cenário maior: para pecuária, por exemplo, são necessários vastos pastos (necessitando utilizar muitos hectares de terra para poucos animais proporcionalmente). O consumo de água do animal, das instalações da fazenda, da indústria que produziu ração e tudo mais é extremamente elevado por cabeça de gado. O transporte da carne é refrigerado, assim como seu armazenamento nos mercados e nas residências (acarretando consumo elevado de energia elétrica). Isso pra mencionar somente os fatores mais proeminentes.
Entretanto, isso não significa que uma dieta vegetariana ou vegana seja necessariamente superior à onívora quando se pensa em impacto ambiental. Os autores fizeram um adendo mostrando que no grupo dieta vegana alguns indivíduos demonstraram pegada ambiental semelhante ao observado na dieta onívora. Isso se justifica porque os veganos não consomem nada de origem animal ou que tenha utilizado animais em sua cadeia produtiva, mas isso não os isenta de consumir ultraprocessados.
Existem ultraprocessados diversos que são veganos. Salgadinhos de milho, bolos, doces, biscoitos… a lista é grande. Praticamente todo ultraprocessado possui impacto ambiental elevado, pois necessitou de processamento industrial. A indústria é uma grande consumidora de água e energia elétrica, além de produtora de rejeitos. Sem contar a utilização de embalagens de plástico e outros materiais que podem ser descartados no meio-ambiente sem preparo algum.
Sendo assim, a mensagem final que quero deixar é: para reduzir o impacto ambiental da nossa alimentação, devemos preferir alimentos in natura e minimamente processados, além de seguir uma dieta plant-based (com pouco ou nada de origem animal). Isso serve tanto para a saúde quanto para o planeta!