O fígado é a “central energética” do nosso organismo. É lá que carboidratos, proteínas e lipídios são degradados, sintetizados, oxidados e/ou endereçados. É lá também que metabolizamos praticamente todos os xenobióticos (medicamentos, agrotóxicos, poluentes, etc). Sem contar diversas outras funções, como no metabolismo de colesterol, degradação de hormônios, armazenamento de alguns micronutrientes, entre outros.
Acontece que o fígado é muito responsivo ao nosso estilo de vida. Todas essas funções atuam de forma sinérgica em um indivíduo saudável. Entretanto, se houver estilo de vida inadequado, sinais bioquímicos são enviados de tal forma que há perturbação nesses ciclos.
Vamos pegar a insulina como exemplo. As principais funções da insulina no fígado são impedir a produção de glicose, estimular a síntese de glicogênio e estimular a síntese de lipídios a partir de carboidratos. Na resistência à insulina, que é uma consequência muito comum de um estilo de vida inadequado, a insulina não consegue desencadear a cascata de reações que impede a produção de glicose. Resultado: liberação de glicose hepática mesmo em estados alimentados, gerando hiperglicemia. Ao mesmo tempo, esse excesso de glicose acaba por disparar sinais celular que geram síntese de lipídios, o que resulta em hipertrigliceridemia (Cell Mol Gastroenterol Hepatol. 2019; 7(2): 447–456).
Outro fator importante é a biotransformação. A biotransformação é a forma com que o fígado metaboliza e excreta xenobióticos, álcool, cafeína e outros fatores. Acontece que várias dessas moléculas são metabolizadas pelas mesmas enzimas. Um grande exemplo é o álcool. Álcool e paracetamol são metabolizados pela mesma família de enzimas (CYP2E1). As evidências mostram que, caso haja ingestão concomitante dos dois, a enzima fica “saturada” metabolizando álcool, deixando paracetamol livre, o que gera maior risco de hepatotoxicidade por esse medicamento (Clin Pharmacokinet. 2014 Dec;53(12):1115-36). Esse é o mecanismo que explica o porquê de não poder ingerir álcool junto a alguns medicamentos.
Existem várias outras formas pelas quais o fígado responde ao estilo de vida, desde o ritmo circadiano até a glicemia sanguínea. Sendo assim, a reflexão que deixo hoje é: o seu estilo de vida norteia as ações do fígado. Que tipo de norte você tem dado ao seu?
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